“Adelaide João, atriz de uma graciosidade imensa e com uma singular inteligência de palco, era reconhecida pelos seus colegas de profissão como um exemplo de integridade e de entrega. A profusão de papéis, do teatro experimental às séries de televisão e ao cinema, são testemunho da qualidade e de um modo de representação sem pejo na diversidade e na entrega”, pode ler-se na nota de pesar do ministério, que endereça as condolências à família e amigos.
A atriz Adelaide João, de 99 anos, morreu hoje de madrugada na Casa do Artista, em Lisboa, onde residia, disse à agência Lusa fonte da instituição.
A atriz, que recebeu em 2007 o prémio Sophia pela carreira, morreu vítima de COVID-19.
Maria da Glória Pereira Silva, de nome artístico Adelaide João, nasceu em Lisboa em 27 de julho de 1921 e começou como atriz amadora no grupo de teatro da Philips.
A viagem para a profissionalização acontece com o encenador e realizador Artur Ramos, que a convidou para o elenco de "Fim de semana em Madrid", de Miguel Barbosa, nos anos de 1950.
Estudou no Conservatório Nacional e, em 1961, partiu para Paris para estudar teatro, com uma bolsa de estudo, tendo trabalhado com várias companhias francesas, como a de Raymon Rouleau, no Théâtre de Montparnasse, assim como no Théâtre Sarah Bernhardt, já que obteve a carteira de atriz profissional naquele país.
Entre múltiplas outras peças, em 1961, representou “O consultório”, de Augusto Sobral, no Teatro Nacional D. Maria II, e, um ano depois, “A rapariga do bar”, dirigida por Couto Viana, no Teatro da Trindade, pela Companhia Nacional de Teatro.
Nos anos seguintes, fez parte de companhias como o Teatro Estúdio de Lisboa, Teatro Experimental de Cascais, Teatro Maria Matos, Casa da Comédia, Empresa Vasco Morgado e O Bando, de que era cooperante.
No teatro O Bando fez parte, entre outras, do elenco das peças "Ensaio sobre a cegueira", de José Saramago, e "Os anjos", de Teolinda Gersão.
Trabalhou ainda com outras companhias independentes como A Comuna, o Teatro da Cornucópia, os Bonecreiros, A Barraca.
O seu trabalho na televisão repartiu-se por séries, telenovelas, telefilmes e teatro televisivo.
Esteve no elenco de telenovelas como “Vila Faia” (1982), "Origens" (1983), "Chuva na areia" (1985), "Palavras cruzadas" (1987), “Nunca digas adeus” (2001) e “Tudo por amor” (2002).
“Os gatos não têm vertigens” e "Oxalá", de António-Pedro Vasconcelos, “A mulher que acreditava ser presidente dos Estados Unidos”, de João Botelho, “Telefona-me” e “A estreia”, de Frederico Corado, “O processo do rei” e “O fim do mundo”, de João Mário Grilo, “Francisca” e "Amor de Perdição", de Manoel de Oliveira, “Manhã submersa”, de Lauro António, "Verde por fora, vermelho por dentro", de Ricardo Costa, "A santa aliança", de Eduardo Geada, "Nós por cá, todos bem", de Fernando Lopes, e "Dom Roberto", de Ernesto de Sousa, contam-se entre os filmes em que participou.
O último trabalho de Adelaide João na televisão data de 2014, na série televisiva “The Coffee Shop Series”, cuja primeira temporada foi transmitida na SIC Radical e, a segunda, na RTP 2.
O seu nome está também no elenco de “Angola Momentos Kodak”, de Rui Goulart, filmado nos anos de 2018/2019.
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