Kevin Spacey chegou ao Tribunal Federal de Manhattan sorridente e aparentando tranquilidade, por volta das 9h00 locais. Após a seleção do júri, os advogados de acusação e defesa apresentaram seus pontos de vista sobre o mesmo facto: que o jovem Rapp esteve numa festa no estúdio de Spacey em Manhattan quando este último iniciava a sua carreira, principalmente no teatro.
Para o advogado de Rapp, Peter Saghir, um Kevin Spacey que abusava do álcool e de drogas encontrou o jovem a ver televisão na sua cama quando os convidados saíram, deitou-o e colocou-se em cima dele. Rapp saiu e foi para a casa de banho, "um local seguro, para se acalmar", antes de se dirigir para a porta de entrada, onde o protagonista de "House of Cards" lhe perguntou: "Tens a certeza de que queres ir embora?".
Segundo a versão da advogada de Kevin Spacey, Jennifer Keller, o ator convidou o jovem colega e o amigo deste, John Barrowman, de 18 anos, porque estava interessado neste último. Mas Rapp apareceu sozinho, porque o seu amigo tinha regressado a Chicago.
Como Rapp estava em digressão com uma companhia de teatro e não conhecia ninguém em Nova Iorque, resolveu ver televisão. Mas segundo a advogada, que apresentou a planta do apartamento, a versão de Rapp "só funciona se houvesse uma parede", ou seja, um quarto separado do ambiente.
Perante a crise profissional e ataques sofridos nas redes sociais, Kevin Spacey Fowler "quer justiça", disse a advogada, que pediu aos 12 membros do júri que não condenem "algo que não aconteceu". O julgamento deve durar duas semanas.
A fama mundial de Spacey foi construída a partir dos anos 1980, graças às suas personagens em filmes como "Beleza Americana" e "Os Suspeitos do Costume", ou no seu mais recente trabalho na série "House of Cards". O ator desapareceu dos ecrãs e palcos desde que foi uma das primeiras celebridades varridas pela onda global #MeToo, originada nos Estados Unidos.
"Não houve beijos, nem ereção, nem toques nos genitais”, reconheceu o autor da denúncia, acusado de contar "versões diferentes" dos factos. Ator da série "Star Trek: Discovery", Rapp pediu 40 milhões de dólares pela "angústia emocional" que sofre desde então.
A acusação inicial de "agressão sexual" não foi mantida pelo juiz. O presidente do tribunal considerou que essa classificação não poderia abranger factos já prescritos, além de não se enquadrar numa lei estadual de proteção aos menores de idade de 2019.
O juiz imputou a Spacey a acusação de "dano à integridade física" de Rapp, que, devido ao abuso, teria sofrido "angústia emocional", segundo um documento judicial de junho.
Em outubro de 2017, Rapp acusou Spacey pela primeira vez, com riqueza de detalhes, em declarações ao BuzzFeed News. Em setembro de 2020, apresentou uma queixa contra Spacey por insinuações e a alegada agressão sexual durante a festa ocorrida em 1986.
Um dia após a denúncia de Rapp, Spacey, que diz não se lembrar do episódio, ofereceu no Twitter suas "sinceras desculpas" pelo seu "comportamento bêbado e profundamente impróprio".
Kevin Spacey já teve problemas com a Justiça nos Estados Unidos e no Reino Unido. Em Londres, é processado por agressão sexual contra três homens entre março de 2005 e abril de 2013, quando era diretor de teatro. Em julho passado, declarou-se inocente.
Comentários