A associação organizadora do festival de cinema de Tours, dedicado ao cinema italiano contemporâneo, decidiu afastar o realizador Jacques Doillon da presidência do júri da sua 10ª edição, que começa dentro de menos de duas semanas, foi anunciado esta sexta-feira.
A decisão do festival surge no dia a seguir à atriz Judith Godrèche, atualmente com 51 anos, ter apresentado queixa por abuso sexual contra o realizador, atualmente com 79 anos.
Os dois trabalharam juntos em "La fille de 15 ans" ("A Rapariga de Quinze Anos"), lançado em 1989, quando ela tinha 15 anos e ainda era parceira de Benoît Jacquot, realizador contra quem a atriz também formalizou uma queixa por violação esta semana.
"Após tomarmos conhecimento da acusação na quinta-feira ao realizador por parte de atrizes que trabalharam com ele, incluindo Judith Godrèche, olhámos uns para os outros e dissemos para nós mesmos: ‘Não podemos continuar assim'”, explicou à France-Presse (AFP) Bruno Lavillatte, presidente do festival “Viva il cinema!”, marcado para 21 a 25 de fevereiro.
“É uma decisão coletiva e colegial”, destacou.
“O nosso festival está ancorado nos problemas da sociedade, ambientais, sociais (...) É contrário aos valores que defendemos, houve uma contradição”, continuou Lavillatte.
"É claro que existe o Estado de Direito, a presunção de inocência que respeitamos. A justiça segue o seu curso [...] Mas teríamos ficado completamente desconfortáveis em tê-lo como presidente [nestas circunstâncias]. Costumamos dizer 'em caso de dúvida, abstenha-se'; nós achámos o contrário: 'na dúvida, tome uma posição'”, completou o presidente do evento.
Jacques Doillon tem trinta filmes no seu currículo, com destaque para o premiado "Ponette" (1996) e "La drôlesse" (1979), "A Pirata" (1984), "O Pequeno Criminoso" (1990), "Le jeune Werther" (1993) e, mais recentemente, "O Casamento a Três" (2010) e "Rodin" (2017).
A sua advogada, Marie Dosé, declarou à AFP na quinta-feira que o realizador rejeita "veementemente" as acusações e que "espera poder explicar-se em tribunal o mais rapidamente possível".
Cerca de 15 filmes estão programados para o “Viva il cinema!”.
Entre os convidados, destaca-se especificamente a presença de Giorgio Diritti, realizador que foi duas vezes galardoado com o prémio David di Donatello - o equivalente da Itália aos Óscares - de Melhor Filme, que dará uma 'masterclass' em Tours e apresentará um dos seus filmes premiados, “Volevo nascondermi” (2020), com Elio Germano.
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