Amanda Baeza explicou que foi convidada, no início deste mês, pela câmara municipal da Amadora e pelo Festival de Banda Desenhada AmadoraBD para um projeto artístico, de criação de ‘outdoors’ ilustrados com autoras portuguesas, para celebrar em abril a ‘revolução dos cravos’.
Já depois de ter assinado uma “minuta para o procedimento de adjudicação” do trabalho e de ter desenvolvido um projeto criativo preparatório, Amanda Baeza disse que foi informada pela autarquia e pelo festival de que, afinal, seria excluída do projeto, porque este só envolveria autoras portuguesas.
“E ali me fecharam a porta, sem me darem a oportunidade de falar sobre o assunto ou esclarecer a minha situação. Eu tenho dupla nacionalidade. Filha de pai chileno, nascido no Chile, e mãe portuguesa, nascida em Angola. Sou chilena, sim, mas também sou portuguesa. Havendo dúvidas, resolvia-se falando comigo. A decisão não é correta”, sublinhou Amanda Baeza à Lusa.
A agência Lusa tentou obter esclarecimentos durante o dia de hoje junto da Câmara Municipal da Amadora e não obteve resposta. Fonte da assessoria de imprensa disse que não tinha informações.
Na terça-feira, a câmara municipal divulgou o programa cultural para assinalar os 49 anos da revolução de Abril de 1974 e entre as iniciativas está uma exposição de cartazes de grande dimensão em espaço público.
Intitulada “25 de Abril fora de portas!”, a exposição apresentará ‘outdoors’ com ilustrações originais de cinco autoras portuguesas – Cristina Sampaio, Eduarda Lima, Filipa Beleza, Marta Nunes e Susa Monteiro – em vários locais da Amadora ao longo do mês de abril.
O objetivo, refere a autarquia em comunicado, é celebrar “a liberdade” e contribuir para “afirmar a cidade como a capital nacional da banda desenhada”, uma vez que organiza e acolhe há mais de trinta anos o festival AmadoraBD.
A ilustradora e autora de banda desenhada Amanda Baeza nasceu em 1990 em Portugal, passou a infância no Chile e regressou ao país de nascença onde estudou, vive e trabalha há mais de duas décadas, com obra publicada e participação em várias exposições. No festival AmadoraBD expôs em 2014, 2015 e 2018.
Amanda Baeza considerou que, independentemente da nacionalidade, “ninguém deveria ser excluído da opção de celebrar uma data considerada tão importante não só para Portugal, como também para o mundo pelo que representa, ou que deveria representar”.
“Devido ao passado colonial e imperialista deste país, não deveria ser segredo nem surpresa aceitar-se que existem muitos portugueses nascidos em outros ‘territórios’ que não Portugal continental, e não deveriam por isso deixar de ser considerados portugueses”, reforçou a autora.
Amanda Baeza lembrou ainda que muitos dos que trabalham em ilustração e banda desenhada em Portugal são profissionais independentes, que conciliam vários projetos em simultâneo, pelo que “qualquer oportunidade destas é valiosa”.
Questionada sobre se já tinha passado por uma situação discriminatória, Amanda Baeza respondeu que "a pergunta é complexa".
"Sim, em várias outras situações já fui rejeitada e atacada, com frequência suficiente; que é algo que, na rua, estou habituada que de vez em quando aconteça. Mas naturalmente as minhas expectativas num contexto laboral são muito diferentes”, disse.
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