Segundo o artista, foram necessárias 80 horas de trabalho para esculpir o mural que veio trazer à Federação Internacional de Voleibol (FIVB, na sigla francesa) "uma identidade", refere Fábio Azevedo, diretor-geral da organização.

"Outrora, uma pessoa que entrasse na nossa instituição, que não conhecesse o nosso desporto, sairia sem saber onde estava porque não existia nenhuma assinatura do desporto que representamos. Hoje, e com a obra de arte do Telmo, ninguém tem dúvida de que se trata da Federação Internacional de Voleibol quando se entra na nossa instituição", afirmou à Lusa o responsável, referindo-se peça de Telmo Guerra, esculpida nas paredes da receção do edifício.

O artista português Telmo Guerra, reside no cantão de Neuchâtel há 8 anos, é mestre em Psicologia pela Universidade da Beira Interior e trabalha como assistente social com crianças e jovens, mas é na arte que encontra a sua realização pessoal.

"Comecei pela pintura em Portugal e quando cheguei à Suíça descobri a gravura", explicou salientando que começou por experimentar a gravura em madeira e só mais tarde passou para a cerâmica, "por estar ligada à história de Portugal", referiu o artista.

O artesão autodidata foi experimentando a sua arte em diversos materiais mas passou a especializar-se na gravura: "Experimentei, vi que resultava e, até hoje, nunca mais parei".

"Quando fazes uma peça, queres sempre continuar a fazer melhor ou maior e é aí que surge o vício", salientou o artista, admitindo que a arte o ajuda a reforçar o sentimento de portugalidade.

"Quero transmitir através da minha arte quem sou e de onde venho", afirma o artista salientando que quando grava tenta sempre deixar uma marca da sua origem nas suas obras, "nomeadamente através de simbolismos como a Cruz de Portugal ou os motivos de azulejaria portuguesa", explicou.

Telmo Guerra dá vida a peças de arte que se distinguem pela sua dimensão e originalidade. O artista trabalha tanto em madeira como em cerâmica, gesso, granito, e vários outros revestimentos exteriores para esculpir as suas obras em murais.

As obras do artista combinam literatura e tradição homenageando, na maioria das vezes, figuras ilustres da história e cultura portuguesas. "Quem conhece o meu trabalho sabe que gosto de associar frases às minhas obras. Tenho trabalhos com frases do Fernando Pessoa, de Luís de Camões, do José Saramago, da Amália Rodrigues e muitos outras personalidades que marcaram uma geração ou uma época", disse o artista.

Questionado sobre a forma como surgiu a oportunidade de criar uma obra na Federação Internacional de Voleibol em Lausana, o artista limitou-se a dizer que "se trata de estar no sítio certo à hora certa".

Tinha "uma peça minha em Lausana, na loja de um amigo português que vende equipamentos e acessórios para motard's e, o Fábio Azevedo, o diretor-geral da FIVB, foi a essa loja. Quando viu a minha peça exposta nessa loja, pediu o meu contacto e acabou por me ligar semanas mais tarde para me propor uma visita à Federação", revela Telmo Guerra deixando transparecer o orgulho que sente pela obra que criou.

"Todas as obras que faço me marcam, mas aquilo que mais me marcou neste trabalho foi o lugar em que se encontra", reconheceu o Telmo, salientando que foi uma grande honra ter tido esse privilégio.

Segundo o artista, foram cerca de 9 a 12 horas de trabalho diário durante sete dias, em cima de um andaime, com um formão na mão, a esculpir, à mão, aquela que viria a ser a obra que veio dar "alma" à receção da Federação Internacional do Voleibol.

A obra impressa nas paredes da instituição que coordena as atividades de voleibol a nível internacional, representa uma mulher a jogar voleibol de praia, na posição de receção, seguindo-se da representação de uma equipa masculina de voleibol de praia, num ambiente rodeado de palmeiras e uma bancada com espetadores onde o artista deixou o toque português, gravando motivos de azulejaria portuguesa à volta da bancada.

"Fiquei maravilhado com o resultado. Esta obra veio trazer uma identidade ao nosso espaço, uma identificação clara do nosso desporto que não existia até então", comentou o diretor da Federação.

Na Suíça, os murais do artista podem ser vistos em Berna, Lucerna, Lausana, La Chaux-des-Fonds, Valangin, Dombresson, Neuchâtel e Yverdon, e as suas obras divulgadas através do seu blogue e páginas nas redes sociais.