O diretor artístico do Festival d'Avignon, Tiago Rodrigues, defende a escolha da língua árabe como convidada da edição que abre no sábado, pela "riqueza da sua herança" e "diversidade da sua criação", ciente das "complexidades políticas ligadas a esta língua."

Numa declaração divulgada dois dias antes do início do festival francês, Tiago Rodrigues, que condena o ataque terrorista do Hamas e "os crimes de guerra" cometidos pelo governo de Israel, entende a criação artística como instrumento de diálogo e possibilidade de construção de um mundo onde "os festivais possam voltar a ter lugar em Gaza, em paz e liberdade."

Sobre os ataques a este território palestiniano, lembra o massacre de dezenas de milhares de civis, desde outubro de 2023, entre os quais "milhares de crianças". E sublinha: "Crianças. Crianças. Crianças."

"Escolhemos o árabe como língua convidada desta edição de 2025, para partilhar com o público a riqueza da sua herança e a grande diversidade da sua criação contemporânea", lê-se na declaração assinada pelo ator, encenador e dramaturgo português, publicada na página de abertura da edição deste ano do Festival d'Avignon, na Internet.

"Dezenas de performances, leituras, debates, exposições e outras obras celebrarão esta língua de conhecimento e diálogo, falada por pessoas de todas as crenças e convicções", prossegue Tiago Rodrigues, acrescentando: "Não nos esquivamos às complexidades políticas ligadas a esta língua, que é frequentemente utilizada como ferramenta por aqueles que preferem o ódio, o racismo e a violência. Acreditamos no poder das artes para abrir espaços de diálogo e de encontro."

Tiago Rodrigues lembra as violações dos direitos humanos e do Direito internacional cometidas pelo governo israelita liderado por Benjamin Netanyahu e condena veementemente o ataque terrorista do Hamas, na sua declaração.

"O governo de extrema-direita de Israel continua os seus ataques a Gaza, cometendo crimes de guerra, bloqueando a ajuda humanitária, violando sistematicamente os direitos humanos e o direito internacional e provocando a morte de dezenas de milhares de civis palestinianos, entre eles milhares de crianças. Crianças. Crianças. Crianças."

"O ataque terrorista levado a cabo pelo Hamas a 07 de outubro de 2023, que condenamos veementemente, e a tomada de centenas de civis israelitas como reféns, cuja libertação imediata exigimos, não podem servir de álibi para o massacre em Gaza, a que um número crescente de organizações internacionais chama genocídio e que ameaça a sobrevivência de um povo oprimido há décadas. Um cessar-fogo imediato é essencial para garantir o acesso à ajuda humanitária de emergência e o cumprimento do direito internacional", escreve Tiago Rodrigues.

O diretor artístico do Festival de Avignon apela então à união "em torno da criação artística": "Trabalhemos para construir um mundo onde, em breve, os festivais possam voltar a ter lugar em Gaza, em paz e liberdade."

A atual guerra na Faixa de Gaza, enclave palestiniano com mais de dois milhões de habitantes, começou em outubro de 2023, após um ataque do Hamas contra Israel que causou cerca de 1.200 mortos e 251 reféns.

A ofensiva militar israelita que se seguiu ao ataque provocou mais de 57.000 mortos em Gaza, a destruição de grande parte das infraestruturas do território e uma crise na assistência da população, que se viu privada de ajuda médica e alimentar.

A 79.ª edição do Festival d'Avignon, a decorrer de 5 a 26 de julho naquela cidade francesa, inclui este ano 300 apresentações de 42 produções, das quais 32 são estreias.

A programação dedicada à língua árabe compreende doze produções de teatro, dança, música e multidisciplinares, com dezenas de representações em cena, a par de debates, encontros e de exibições de cinema.