“Sempre me disse ‘eu não quero que faças de mim, quero que sejas tu a dizer as minhas palavras’ e foi isso que eu tentei fazer”, revelou.
A atriz deu corpo e voz a Carmen Dolores, aquela que confidenciou ser a sua “madrinha de teatro”, quando se estreou no Teatro Aberto numa peça que juntas fizeram com Digo Infante.
“A Carmen fazia de minha mãe. Foi ela que me deu a primeira deixa, me entregou a primeira palavra, a energia e o gesto que nos faz entrar no trabalho da cena”, afirmou.
Natália Luiza destacou mesmo a “sorte” que teve por ter tido uma madrinha que “simbolizava tudo aquilo que são os reais valores do teatro”.
Para a codiretora artística do Teatro Meridional, Carmen Dolores fez parte de uma geração que pensou que “há uma geração que vem a seguir e que precisa e ser cuidada”, tendo criado a Casa do Artista, que “representa os valores da solidariedade entre gerações”.
A “escrita de memórias” é outros do legados destacados pela atriz, apontando que “ainda há um mês atrás” tinha um projeto para escrever “que não deve ter tido tempo de acabar”, lamentou, “sobre memórias”, mas que “outros continuarão”.
“Fui uma pessoa que com a sua profunda descrição, era ao mesmo tempo insubmissa. Era discreta, mas ao mesmo tempo impressiva, era rigorosa, inteligente, mas muito simples e acima de tudo, não era vaidosa e isso é muito bonito de ver”, evidenciou Natália Luiza.
Carmen Dolores morreu na segunda-feira, em Lisboa, aos 96 anos.
Nascida em Lisboa, em 22 de abril de 1924, Carmen Dolores estreou-se nos palcos no Teatro da Trindade, integrada na Companhia Os Comediantes de Lisboa, na peça “Electra, a mensageira dos deuses”, de Jean Giraudoux, encenada por Francisco Ribeiro (Ribeirinho).
Para trás ficava um percurso iniciado anos antes, na rádio, como declamadora e atriz, e no cinema, onde protagonizara filmes como "A vizinha do lado" e “Amor de Perdição”, de António Lopes Ribeiro.
Retirou-se em 2005, com a peça “Copenhaga”, de Michael Frayn, no Teatro Aberto, encenada por João Lourenço, no Teatro Aberto.
Em julho de 2018, no âmbito de uma homenagem no Teatro da Trindade, que incluiu a estreia da peça “Carmen". A atriz tinha já recebido o grau de Grande-Oficial da Ordem do Infante D. Henrique, a Ordem de Ant'Iago de Espada e a Medalha de Ouro da Câmara Municipal de Lisboa.
Entre outros prémios, Carmen Dolores recebeu, o Prémio Sophia de Carreira, da Academia Portuguesa de Cinema, o Prémio António Quadros de Teatro, da Fundação António Quadros, a Medalha de Mérito Cultural, da Secretaria de Estado da Cultura (1991), o Prémio Gazeta da Casa da Imprensa e o Globo de Ouro por "Copenhaga". A Federação Iberolatina Americana de Artistas deu-lhe o prémio carreira, em 1998.
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