Apesar da conversa amena com o público na Altice Arena, em Lisboa, onde Zhao se mostrou plenamente à vontade com os meandros da comunicação com os fãs, o seu livro é bem mais sombrio do que tudo o que está à sua volta sugere.
Essencialmente, ao enveredar pelos caminhos da ficção científica distópica misturando tradições vindas da história chinesa, entre as quais algumas terrivelmente bárbaras, a escritora cria um universo asfixiante, apresentando personagens em geral infelizes e violentas e centrando a sua narrativa numa mulher cuja vida é marcada pelo ódio e pela tragédia.
Zeitian é uma concubina, representando o desejo de Zhao em recuperar esse aspeto da sociedade chinesa passada, onde mulheres eram negociadas pelas famílias para servirem homens ricos. Uma destas práticas, de enorme barbárie, era o de partir os ossos dos pés das meninas ainda crianças para ficarem com os pés mais pequenos.
Mas aqui a fantasia da autora leva-as a lugares piores. Num mundo em permanente guerra e onde os pilotos são heróis nacionais, cujas façanhas são filmadas em direto, estes dependem de uma ligação mental com uma concubina que fica deitada no veículo. Com o esforço, elas quase invariavelmente morrem.
Zeitian, por seu lado, é uma camponesa decidida a não só vingar a morte da irmã mais velha como a mexer na ordem das coisas. Para tal, mesmo sabendo que o seu destino era a morte, alista-se para servir os pilotos. Pelo caminho, troca uma possibilidade de amor pela vingança. O ódio é a força motriz da personagem... e isso é só o início.
Na Comic Con Portugal, Xiran Jay Zhao anunciou ao público que haverá uma continuação da saga - e que contará com o regresso de uma personagem secundária desta história que parece ter vindo para ficar.
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