Se a ilha está a apenas uma hora e meia, o álbum "Madeira" estava ali à nossa frente. Este acabou por ser o resultado final de uma residência artística, que contou durante um mês, com o apoio da organização Aleste. Um resultado de uma banda que aperfeiçoou o seu som, que criou um álbum que revela toda a essência dos Paus, com uma identidade sonora reconhecível à primeira batida da bateria siamesa.
Nos primeiros meses do ano já vinha a ser desvendado alguns sons como L123 e o Madeira, verificamos que não é preciso muito tempo para ficarmos com as letras nos ouvidos. Não foram várias as vezes que o público demonstrava tê-las na ponta da língua, mas também como sinal de que a banda é uma das referências que anda por cá.
Veja as imagens do concerto:
A máquina dos Paus está bem oleada e vê-se a coordenação quando escutamos Sebo na Estrada ou Faca Cega, temas do último álbum, tal como o tema relacionado com "modelos de negócio ou formas de ser feliz", o Blusão de Ganza é tocado. Estes temas permitem afirmar a consistência que a banda ganhou ao longo dos anos. Mas também verificar a diversidade de assuntos que eles abordam.
Aqui há espaço para tudo. Há espaço para as baterias, para o baixo e para o sintetizador. Há espaço para o rock, para o indie, para o reggaeton. Há espaço para as 12 pessoas, fãs do estilo, dançarem Mo People, ainda dos primórdios do Clarão.
Neste trabalho, mais do que música, aborda-se o amor. Por isso é que é um álbum tão ou mais completo que todos os outros alcançados até à data. É abordado o amor de quando se ouve. Quando se partilha a música com alguém. Quando se está no concerto com uma plateia unida em torno de uma causa. O amor foi o tema principal e que marcou o concerto. E "Madeira" é sobre isso mesmo. Sobre o amor. Sobre a partilha. Que ganha ainda mais relevo tendo em conta à já citada aprovação da lei de identidade de género, como referiram. "Quando existe amor, uma ilha basta”, como citou Quim Albergaria.
Mas não é só ao sabor de "Madeira" que a viagem no Capitólio se faz. Se é verdade que é a personagem principal, outros temas dos outros álbuns, Clarão e Mitra não são esquecidos. Bandeira Branca, Pela Boca e Era Matá-lo são outros dos temas que percorrem esta viagem no tempo, muito saudada por um auditório quase cheio.
O quarteto mostrou-se humilde e grato durante todo o concerto. No meio dos strobes, dos hazers e de todo o aparato visual (quando os temas que compõem o novo álbum eram tocados, mostravam-se paisagens da ilha tropical que fazem parte do vídeo-disco também lançado juntamente com os temas) por várias vezes, fosse o Hélio, fosse o Quim ou até o Makoto, qualquer um aproveitava a paragem para beber um golo de cerveja mas também para agradecer todo o apoio recebido durante o concerto e todo este tempo de existência da banda e até pelo facto de estarem a dançar, incluíndo a mãe do Hélio, que “é a que estava a dançar mais em comparação com o resto da malta”.
Surpreende olhar para o tempo e ver que já passaram sete anos desde que o primeiro disco de PAUS foi lançado. Mas que Deixa-me Ser continua a ser especial e arrepiante de ouvir como fosse a primeira vez.
Madeira já não é só sinónimo de ilha. Não é só sinónimo de aeroporto difícil de aterrar ou sinónimo de lugar de nascimento do Cristiano Ronaldo. É um álbum para “amar sem condição”. Paus agora lançam-se à estrada e agora é apanhá-los num auditório ou festival por perto.
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