O Hot Clube de Portugal (HCP) e a Escola de Jazz Luiz Villas-Boas encerraram no dia 12 de março. Na altura, foi anunciado que a reabertura deveria acontecer no início deste mês, mas hoje, em declarações à Lusa, a presidente do conselho diretivo do HCP, Inês Homem Cunha, referiu que não faz previsões.
“Qualquer previsão que pudéssemos fazer ia ter de ser alterada ou seria baseada em especulações, portanto achámos que não valia a pena. Neste momento não temos previsão nenhuma de quando podemos reabrir”, disse Inês Homem Cunha.
Apesar disso, as aulas da Escola de Jazz Luiz Villas-Boas foram retomadas na segunda-feira, online.
Inês Homem Cunha explicou que foi dada “liberdade aos professores para se organizarem com os alunos individualmente”, embora lhes tenha sido pedido, “e é o que está a acontecer, que cumprissem horários, dentro do possível”.
“É óbvio que isto exigiu da parte dos professores uma grande adaptação das formas de trabalhar. O feedback que tenho tido tem sido muito positivo, eu própria sou aluna e já tive aulas ontem, online”, contou, acrescentando que “vai haver algumas adaptações”, visto que “os primeiros dias são sempre ‘ai isto não funciona, se calhar é melhor assim’”.
Em relação ao clube da Praça da Alegria “é muito complicado”. “Mas estamos a estudar algumas iniciativas para que as pessoas se mantenham atentas e, sobretudo, que ouçam muita música, porque isso é a vida dos músicos, e neste momento é neles que temos de pensar mais”, afirmou.
Durante o tempo em que o HCP permanecer encerrado, deverá mudar-se, tal como a escola, para o mundo virtual.
“Estamos a pensar fazer concertos virtuais, ‘jam sessions’ virtuais, publicar vídeos no nosso canal de Youtube de concertos ao vivo no clube. Vamos tentar implementar isso no sentido de chamar a atenção para a situação dos músicos, que é terrível”, disse.
Inês Homem Cunha sublinha que o que aconteceu no setor cultural, devido à pandemia da COVID-19, “foi muito súbito”.
“Não houve maneira de as pessoas se prepararem minimamente, de se organizarem, foi de um dia para o outro. Desataram a cair marcações de concertos e tudo colapsou”, salientou.
Apesar de o panorama não ser dos melhores, Inês Homem Cunha mantém a esperança. “Ontem enviámos um comunicado para a nossa newsletter e para as nossas redes e para os sócios todos do Hot, dizendo que isto nos preocupava e que a situação do clube também nos preocupava: o clube depende da receita da porta e das quotas dos sócios e se, de repente, isso tudo começasse a cair, nós íamos ter muitas dificuldades em nos mantermos a funcionar, e recebemos vários 'mails' de pessoas, que não são sócias, a quererem fazer-se sócias nesta altura, o que é uma prova de que nós somos um povo super solidário e envolvido, ao contrário do que muita gente diz”, contou.
As respostas que tem recebido ao comunicado divulgado na terça-feira, deixam Inês Homem Cunha “muito contente” e convencida de que “vai correr tudo bem, só pode”.
O Hot Clube de Portugal, o mais antigo clube de jazz europeu em atividade, foi fundado oficialmente a 19 de março de 1948, quando Luiz Villas-Boas, melómano e fundador do clube, preencheu a ficha de sócio número um.
A par do clube e da escola de jazz, parte do trabalho da instituição passa também pelo núcleo museológico, assente sobretudo no espólio deixado por Luiz Villas-Boas, que morreu em 1999.
Em mais de setenta anos de história, o Hot Clube de Portugal terá vivido o momento mais difícil em 2009, quando a cave onde funcionava há décadas, num edifício na Praça de Alegria, ficou destruída num incêndio, sobrando hoje apenas a fachada do prédio.
Dois anos depois, em 2011, o Hot Clube de Portugal retomou a atividade, duas portas ao lado da cave antiga, num espaço mais moderno, mas, ainda assim, pequeno. E com a ficha de sócio de Luiz Villas-Boas a relembrar quando tudo começou, em 1948.
Em 2014, foi criada a etiqueta discográfica do clube.
O novo coronavírus, responsável pela pandemia da COVID-19, já infetou perto de 866 mil pessoas em todo o mundo, das quais morreram mais de 43 mil.
Depois de surgir na China, em dezembro, o surto espalhou-se por todo o mundo, o que levou a Organização Mundial da Saúde (OMS) a declarar uma situação de pandemia.
O continente europeu, com mais de 468 mil infetados e mais de 31.000 mortos, é aquele onde se regista o maior número de casos, e a Itália é o país do mundo com mais vítimas mortais, com 12.428 óbitos, em 105.792 mil casos confirmados até terça-feira.
Em Portugal, segundo o balanço feito hoje pela Direção-Geral da Saúde, registaram-se 187 mortes, mais 27 do que na véspera (+16,9%), e 8.251 casos de infeções confirmadas, o que representa um aumento de 808 em relação a terça-feira (+10,9%).
Portugal, onde os primeiros casos confirmados foram registados no dia 2 de março, encontra-se em estado de emergência desde as 00:00 de 19 de março, até às 23:59 de quinta-feira.
Além disso, o Governo declarou no dia 17 o estado de calamidade pública para o concelho de Ovar.
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