O livro, editado agora pela Temas e Debates, reúne cerca de 180 fábulas da tradição oral, recontadas e adaptadas por outros autores portugueses, a partir de La Fontaine ou de Esopo, e recupera nove histórias de um manuscrito quinhentista, descoberto em 1900 na Áustria pelo linguista José Leite de Vasconcelos, que é considerado "a mais antiga compilação de fábulas portuguesas".
Num texto introdutório, José Viale Moutinho recorda que os adultos assumem "um velho preconceito" de que as fábulas são para crianças: "É que quando as fábulas eram expressas num idioma de autoridade, como o latim e o grego, talvez mesmo em francês mais antigo, tinham a categoria de obra de arte, ainda que menor".
"Livro português das fábulas" apresenta histórias para crianças e adultos, em prosa e poesia, em que predominam os animais e lições de moral.
Ao cancioneiro popular, povoado de raposas, ratos, ursos e corvos, juntam-se duas histórias de Camilo Castelo Branco, uma de Guerra Junqueiro, outra de Padre António Vieira, três de Fernando Pessoa, mais de 20 de Trindade Coelho e quatro da Marquesa de Alorna.
Embora o primeiro registo português de fábulas remeta precisamente para o século XV, com a descoberta do manuscrito por José Leite de Vasconcelos, "a onda das fábulas invadiu Portugal no último quartel do século XVIII".
Dada a abrangência temporal, na recolha de José Viale Moutinho é possível, por isso, ler e comparar várias versões das histórias da raposa e do lobo, ou da cigarra e da formiga - as duas mais conhecidas - consoante o entendimento do autor.
"De algum modo, a fábula é uma escrita de resistência do povo contra o poder; é uma escrita política em muitos casos, que desagradaria aos visados, cuja identidade se perdeu nos corredores da História", escreveu o jornalista e autor.
"Livro Português das Fábulas - Uma Antologia" junta-se a outras antologias que a Temas e Debates tem editado nos últimos anos, nomeadamente "Contos completos", dos irmãos Grimm, de 2013, "Contos", de Hans Christian Andersen, de 2015, e "Fábulas", de La Fontaine, de 2016.
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