Em conversa com o SAPO Mag, Samuel Rego, diretor da Escola Superior de Dança, garante que "toda a gente pode dançar": "Faz todo o sentido dançar. Felizmente, é uma via para a confraternização e o convívio e, portanto, qualquer pé de chumbo é bem-vindo a celebrar o dia Mundial da Dança".
"Felizmente, há uma adesão muito popular à dança e nós, que estamos aqui no centro da formação, fazemos questão de participar. Temos inúmeras parcerias em todo o país com escolas de ensino artístico especializado da dança. E sabemos que isto é uma oportunidade também para afirmar a dança no contexto da sociedade", destaca. "Não há nenhuma família, que não tenha alguém que não tenha feito dança, que goste de fazer dança ou que tenha tido o sonho de ser bailarino, e isso é fantástico", acrescenta.
Este ano, devido à proximidade das datas, as celebrações do Dia Mundial da Dança cruzaram-se com as comemorações 50 anos do 25 de Abril. "Tivemos a oportunidade de estar na residência oficial do Primeiro Ministro com estudantes a fazerem performances e foi essa a nossa associação ao dia Mundial da Dança. Mas vamos ter muitas atividades, mas de todas elas depois do dia 29 de abril - vamos estar no Centro Cultural de Belém, em meados de maio ou no Centro de Congressos das Caldas da Rainha. Também gostaria de destacar o nosso espetáculo no São Luiz, o Teatro Municipal em Lisboa, no início de julho", adianta.
"A escola de dança padece de instalações próprias, ou seja, estamos num sítio provisoriamente há cinco anos e para compensar isso, tentamos ao máximo estabelecer parcerias com instituições tanto da cidade como de outras zonas do país, para que os nossos alunos ganharem visibilidade", lembra Samuel Rego.
"Nunca houve tantas escolas de dança"
Todos dançamos socialmente, em vídeos no TikTok, em festas ou escondidos no quarto, mas há quem sonhe mostrar o seu talento ao mundo. E a Escola Superior de Dança tem sempre as portas abertas a todos, através da licenciatura em dança, o mestrado em Ensino de Dança, "que forma professores para todo o tipo de escolas do país e fora do país", e o mestrado em criação coreográfica e práticas profissionais".
E, nas últimas décadas, a oferta de formação no universo da dança também cresceu a passos largos. "Em termos de formação, nunca houve tantas escolas de dança, de várias linguagens e de estéticas diferentes. Portanto, nos últimos anos, as danças urbanas tiveram surto exponencial magnífico, quase imprevisível, o número de alunos multiplicou-se. Ao nível da da dança contemporânea e da dança clássica, também há cada vez mais escolas que fazem parte inclusivamente dos planos curriculares", resume o diretor da Escola Superior de Dança.
"Umas são escolas públicas, outras privadas, mas que são reconhecidas pelos currículos, integram os currículos oficiais. Houve uma mudança radical no panorama da formação", sublinha. Já ao nível da programação e das companhias de dança, Samuel Rego, lamenta que, "infelizmente, não acompanharam aquilo que seria de esperar".
"Temos cada vez mais intérpretes e criadores capazes de executar em contexto profissional. Mas é aí que a coisa não corre tão bem, na medida em que muitos têm que sair do país e outros ficam a fazer projetos associados à dança, mas infelizmente não há tantas companhias como seria de esperar, até pelo pelo nível de formantes que saem das nossas escolas, tanto a nível básico e secundário como superior", explica ao SAPO Mag.
Paralelamente ao crescimento da oferta, o interesse e a procura no sector também aumentou. "É espetacular, é uma diferença, é uma mudança de paradigma. Eu posso falar pelo ensino superior, diretamente. O número de estudantes que chega com nível já há muito muito alto, tem aumentado de ano para ano e todos os professores são consensuais em dizer isso", destaca.
"O preconceito que existiria há 20 anos dissipou-se"
"O preconceito que existiria há 20 anos - 'porque é que vais fazer uma licenciatura em dança? Porque é que vais fazer mestrado em dança?' - dissipou-se muito nos últimos anos. E acho que também é ganho da própria liberdade. Felizmente, cada indivíduo querer desenvolver o seu potencial a partir daquilo que gosta de fazer. Sempre houve desejo de trabalhar com o corpo a nível performativo e, portanto, era uma coisa que já era comum nas belas artes, nas artes plásticas, na arquitetura. Depois, felizmente, para a música, para o teatro e a dança, isso vulgarizou-se, ou seja, a participação, fazer percurso académico na área da dança. Acho que é uma vitória da democracia, da liberdade e da liberdade individual, em última análise", sublinha o diretor da Escola Superior de Dança.
Para Samuel Rego, nos próximos 10 anos, "o mundo profissional da dança vai mudar para melhor". "Há uma quantidade cada vez maior de pessoas formadas e habilitadas para as práticas da dança e acredito que aquilo que falta hoje vai ser cumprido por estas gerações que têm outros instrumentos, outras ferramentas, e que seguramente têm outras visões cada vez mais internacionais", destaca, acrescentando que acredita que vão nascer novos projetos.
Para que todos possam continuar a dar mais passos na dança, para o diretor da Escola Superior de Dança, é importante que existam apoios. "É verdade que os recursos são sempre limitados e acredito que o Estado tem papel determinante naquilo que é a prestação do serviço público, onde as artes estão incluídas. Acho que há grande consenso a nível parlamentar, diria, de todos os partidos sobre a Cultura e as Artes, que são um elemento fundamental para a qualidade de vida, mais do que o aspecto identitário", sublinha.
"Creio que as alterações previstas, que o novo governo anunciou sobre a lei do mecenato cultural, são fundamentais para haver um desenvolvimento diferente daquilo que foi realizado até agora, para que a sociedade civil sinta que investir na Cultura é fundamental", defende Samuel Rego.
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