Os sofás colocados na rua das Galerias de Paris e o cheiro do verniz a ser colocado no chão de madeira do Plano B, perto da Torre dos Clérigos do Porto, não enganam. Há frenéticas obras de manutenção e de limpeza em curso para reabrir o espaço noturno esta sexta-feira, 1 de outubro, a data que o Governo anunciou para se poder reabrir bares e discotecas com exigência de certificado digital de vacinação contra a COVID-19.
“Já esteve um caos. Agora está quase pronto para voltar à quase normalidade e reviver as boas noites que cá tivemos”, conta Rúben Santos, gerente do Plano B, clube noturno que reabre esta sexta-feira. Às 22h30 está marcado o concerto com a banda Throes and The Shine e a noite continua com DJs.
“Foi uma notícia inesperada que o Governo anunciou quinta-feira passada. Não estávamos à espera que fosse para já. Pensávamos que iria ser mais tarde”, admitiu Rúben Santos. A surpresa pelo anúncio do Governo justifica-se, precisamente, pelas obras que ainda estão a decorrer a poucas horas antes de reabrir.
Os sofás de tecido vão ser ainda retirados para uma melhor higienização e só ficam os de cabedal e a equipa de manutenção da máquinas de cerveja fazia os últimos ajustes.
As obras em curso decorrem também na discoteca Indústria, na avenida do Brasil, na Foz do Porto, onde uma infiltração das águas pluviais durante o inverno obrigou à substituição do chão e pintura das paredes.
“Todos os clubes e discotecas, fechadas há mais de um ano, precisam de obras acentuadas e isso leva algum tempo. Essa foi a dificuldade. Numa semana conseguir equipas de trabalho e de manutenção, que conseguissem dar resposta em qualidade e nos prazos para abrirmos no dia 01. Felizmente, vamos conseguir abrir nessa data, mas está a dar muito trabalho”, declarou Rúben Dominguez, diretor artístico e gerente do Indústria Club, avançando à Lusa que o concerto ao vivo do músico britânico Fatboy Slim, reagendado durante o confinamento para esta sexta-feira, voltou a ser recalendarizado, agora para 8 de outubro.
O Indústria vai reabrir sexta-feira, às 23h00, e promete “surpresas” para os clientes com “artistas conceituados”.
“Vai ser um voto de confiança e uma surpresa que lhes queremos dar numa noite em que, acima de tudo, queremos festejar a reabertura do clube que está a fazer falta a muita gente”, observou Rúben Dominguez, alertando que a falta de apoios do Estado ao setor empresarial da noite é um tema que está a ser “negligenciado”, porque é um setor que emprega muito, mas que se viu obrigado a despedir muita gente.
A dificuldade acumulada nestes 18 meses, porque os custos não acabaram, mais a necessidade de investimento para reabrir, é algo que não está a ser visto pela tutela com a "devida dignidade”, alerta Rúben Dominguez, sublinhando que agora faz ainda mais falta, com a reabertura e criação de emprego.
A bola de espelhos pendurada por cima da pista do Indústria, que refletiu a vida de milhares de pessoas que ali dançaram nos últimos 34 anos, vai ali continuar suspensa, à espera dos apoios do Governo que teimam em não chegar, mas com a certeza de ir voltar a refletir a alegria de dançar e conviver.
Com a certeza de abrir em grande estilo está o Pérola Negra, um antigo 'cabaret' e bar de 'striptease' do Porto, na sua terceira fase, que agora em formato de clube noturno tem programação cultural regular e que depois de mais dum ano e meio encerrado vai reabrir sexta-feira, dia 01 de outubro, às 23h00.
Depois de tempos "angustiantes" causados pela COVID-19, o proprietário, Hélder Leite, conta que se foram prevenindo, com obras de manutenção quase todos os meses para manter a “casa viva” e “apresentável”.
A parte elétrica, aparelhagens, robótica, e das luzes foi toda revista, bem como a higienização das máquinas de cerveja, descreve Hélder Leite.
O sistema de ventilação e extrações de ar, saneamento, sistema de frios, a ativação do sistema ‘contactless’ para os pagamentos, bem como a manutenção dos rádios para a comunicação interna também foi tudo revisto.
O proprietário do Pérola Negra quer que seja um recomeço marcado pela calma necessária para dar de novo vida aos míticos sofás vermelhos, varões e espelhos que decoram o espaço, mas avisa que continuam a ser necessários os apoios do Apoiar e Apoiar Rendas que “ainda não chegaram”, nem se há uma previsão de quando vão chegar.
O Programa Apoiar é um instrumento de apoio à tesouraria das empresas, que atuem em setores particularmente afetados pelas medidas de confinamento, assegurando e preservando a sua liquidez no mercado e a continuidade da sua atividade económica durante e após o surto pandémico, financiado pelo Fundo Europeu de Desenvolvimento Regional (FEDER).
Em entrevista à Lusa, o presidente da Associação de Bares e Discotecas da Movida do Porto, Miguel Camões, denunciou quarta-feira que os apoios de 2021 prometidos pelo Governo continuam sem chegar ao setor e alertou que vai ser “muito duro” reabrir sem liquidez de tesouraria.
A partir de outubro, o país vai evoluir do estado de contingência para estado de alerta, com reabertura de bares e discotecas, com exigência de certificado digital de vacinação.
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