Distante das guitarras pesadas da banda que o tornou famoso, Vedder tem-se dedicado há alguns anos a revisitar as tradições “unplugged”, favorecido pela sua voz poderosa para transformar em lindas baladas várias obras dos Pearl Jam.
Antes de tudo começar um aviso inusitado para um concerto de “rock”, onde um pedido explicava o tom intimista que se pretendia para o evento – pedindo que as pessoas apreciassem o concerto “in live time” e não perturbassem os outros com “smartphones” e assemelhados.
Pontualmente subiu ao palco o músico irlandês Glen Hansard, parceiro constante do cantor que surpreendeu ao entrar entoando à “capella” uma canção sem microfone. Oito músicas depois saía ovacionado de pé pelo público que lotava a Altice Arena.
Também a horas entrou Vedder com “Far Behind”, obra que compôs para o filme de Sean Penn em 2007, “O Lado Selvagem”. Com tanto por onde escolher, ficou logo evidente que a enormidade de clássicos que vinha entoando na sua excursão europeia iniciada em junho ficaria de fora – com raras exceções.
VEJA AS FOTOS DO CONCERTO (@ Tiago Cortez / Everything is new):
Os telemóveis podiam ser desligados (não foram, claro, mas andaram mais discretos que o costume), mas ficou clara a diferença entre o desejo de intimismo e a vontade de artista e público se comunicarem. As versões curtas, brutas, belas, de obras dos Pearl Jam (“Just Breathe”, “Elderly Woman Behind the Counter in a Small Town”, “I Am Mine”, “Immortality”) sucederam-se sob “obrigados”.
Num destes momentos Vedder leu uma mensagem em português arrancando aplausos, risos (ninguém o ensinou a ler a conjunção “que”!) e explicando que, “apesar de ser a sua 11ª vez em Portugal ele continuava a falar mal português”.
Houve “festa” com “Wishlist” e, se qualquer desejo de “intimismo” já havia há muito terminado, o “velório” deu-se com o transe coletivo de “Black”, cantada em pé e alegremente por um povo e um artista esquecidos do que ela era há quase trinta anos – uma arrepiante e desesperada balada sobre a dor da perda.
Nas suas muitas interações “personalizadas” com a audiência Vedder repara numa criança a dormir e, depois de sussurrar “para não a acordar”, dedica-lhe uma barulhenta versão de “Porch”, de resto a música que os aproximava do “metal” em “Ten”.
Enquanto ele se retira por instantes, os Red Limo String Quartet tocam uma atmosférica versão instrumental de “Jeremy”. Vedder retorna com Hansard nos teclados para “I’m so Tired”, “cover” dos muito alternativos Fugazi.
Pelo concerto Vedder andou a partilhar vinho com a plateia, que “beneficiava” das câmaras e as pessoas ficavam visíveis para o restante do público; noutro momento ele pede os holofotes para uma mulher aos prantos que exibia o cartaz “your music saved my sanity”, enquanto em outro uma menina foi descoberta por celebrar o seu aniversário. Previsivelmente perplexa, ganhou como prenda uma harmónica e a multidão a cantar-lhe os parabéns.
No momento político da noite, o ativista Vedder (que odeia Donald Trump) ameaça tocar “People Have the Power”, mas em vez de Patti Smith o que surge mesmo é o clássico pacifista de John Lennon, “Imagine”, demonstrando que ainda guarda o seu poder de entusiasmar depois de anos de massificação.
Entre mais canções dos Pearl Jam, Vedder e Hansard unem as guitarras para a bela “Society” (de "O Lado Selvagem") antes de terminar com a celebração de “Hard Sun” – obra do cantor canadiano que gravou um único álbum em 1989 sob a alcunha de Indio antes de desaparecer dos holofotes por não lidar bem com as pressões da indústria.
O final fica por conta de “Indifference”, de “Vs”, e o hino de Neil Young “Rockin’ the Free World” cantado em pé por uma multidão pronta para ir embora feliz.
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