Harvey Weinstein, cujos filmes já ganharam mais de 80 estatuetas nos Óscares, acreditava ser "o dono do universo, e as testemunhas eram formigas que poderia esmagar sem sofrer consequências", disse a promotora Joan Illuzzi-Orbon nas suas alegações finais, no último dia de julgamento no tribunal de Manhattan.
O produtor de cinema, de 67 anos, pode ser condenado à prisão perpétua caso seja declarado culpado por violação e agressão sexual.
Após três semanas de julgamento, o júri começará a deliberar na próxima terça-feira para chegar a um veredicto.
"Elas não têm razão para mentir"
A promotora defende que as seis mulheres que testemunharam durante o julgamento de Weinstein não teriam "nenhum motivo para mentir".
"Para quê submeterem-se a todo este stress de vir até aqui testemunhar se não estivessem a dizer a verdade?", questionou Illuzzi-Orbon ao júri durante as suas três horas de alegações finais, com duração bem menor do que as da advogada de defesa, Donna Rotunno, na passada quinta-feira.
"Parece-vos que elas estavam a ter um momento divertido? (...) Sacrificaram a sua dignidade, intimidade, tranquilidade com a esperança de que as ouvissem", afirmou.
A promotora também procurou dissipar as contradições mencionadas pela defesa na quinta-feira.
Rotunno tinha sugerido que as acusadoras se tinham colocado numa situação de agressão e convidou o júri a ter "a coragem" de tomar uma decisão "impopular", que é a de absolver o seu cliente.
"Elas mereciam que acontecesse o que lhes aconteceu só por terem ido ao encontro de Harvey Weinstein? Foi escolha delas?", perguntou a promotora.
"Quando apanhamos um avião, esperamos que seja sequestrado?", perguntou. "Então porque pensaríamos que ir casa de um homem implica sermos agredidas? Olhamos para as vítimas de crimes sexuais de forma diferente das vítimas de outros tipos de crimes", ressaltou Illuzzi-Orbon.
Durante a sua alegação, a promotora focou-se no testemunho da atriz de "Os Sopranos", Annabella Sciorra, que afirma ter sido violada por Weinstein entre os anos de 1993-94.
A atriz fez tentou manter-se afastada do homem forte de Hollywood desde a alegada violação, ao contrário das outras mulheres que testemunharam.
Investigações jornalísticas sobre denúncias de abusos sexuais de homens poderosos de várias indústrias, como o jornalismo, a gastronomia e a música, desencadearam no movimento #MeToo, em 2017.
Harvey Weinstein é o primeiro deles a ser julgado. Embora mais de 80 mulheres o tenham denunciado por assédio, agressão sexual ou violação, ele só foi acusado pelo violação da ex-atriz Jessica Mann, em 2013, e pela agressão sexual da ex-assistente de produção Mimi Hailey, em 2006, pois a maioria dos crimes já prescreveu.
A promotoria apresentou o testemunho de outras quatro mulheres para demonstrar que o ex-produtor é um "predador sexual" em série, uma das cinco acusações pela qual responde.
Weinstein argumenta que todas as suas relações foram consensuais.
O júri deve definir um veredicto para cada uma das acusações. Caso não cheguem a um consenso, o juiz pode ser obrigado a anular o julgamento. Pode haver um veredicto misto: o ex-produtor pode ser culpado de algumas acusações e absolvido de outras.
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