O anuncio do vencedor foi divulgado pela página oficial do prémio, que vai na sua segunda edição e tem uma recompensa monetária no valor de 150 mil dólares (cerca de 139 mil euros).

De acordo com o júri do prémio, presidido pela radialista e romancista sino-canadiana Jen Sookfong Lee, “Brotherless Night” (“Noite sem irmãos”, em tradução livre), é “um romance ambicioso e muito bem escrito”, que “explora a forma como as pessoas comuns podem ser arrastadas pela violência política e, apesar dos seus melhores esforços, acabam por ser engolidas por ela”.

“Através das suas personagens, V.V. Ganeshananthan convida-nos a refletir sobre a forma como a história é contada, a quem serve e as muitas verdades que deixa de fora”, acrescenta o júri, classificando ainda este livro como “magnífico”.

A história começa na cidade de Jaffna, no Sri Lanka, em 1981, e centra-se em Sashi, uma jovem de dezasseis anos que quer ser médica, mas que, durante a década seguinte, vê a sua terra ser arrasada por uma guerra civil e o seu sonho perdido quando os quatro irmãos e um amigo se envolvem na violência crescente.

Sashi aceita então o convite desse seu amigo para trabalhar como médica num hospital de campanha para os militantes dos Tigres Tâmil, que, após anos de discriminação e violência estatal, lutam por uma pátria separada para a minoria Tamil do Sri Lanka.

Quando os Tigres Tâmil assassinam um dos seus professores e as forças de manutenção da paz indianas chegam apenas para cometer mais atrocidades, Sashi começa a questionar a sua posição.

É então que um dos seus professores de Medicina, uma feminista e dissidente tâmil, a convida para participar num projeto secreto de documentação de violações dos direitos humanos, levando-a a entrar num caminho perigoso que a mudará para sempre.

Passada nos primeiros anos da guerra civil de três décadas no Sri Lanka, esta história traça a jornada moral de uma mulher e apresenta um testemunho do impacto duradouro da guerra e dos laços familiares.

V.V. Ganeshananthan foi escolhida de entre cinco finalistas ao prémio, entre os quais a neozelandesa nascida no Canadá Eleanor Catton, com “A Floresta de Birnam” (editada em Portugal pela Bertrand).

As restantes finalistas foram a canadiana Claudia Dey, com “Daughter”, a norte-americana Kim Coleman Foote, com “Coleman Hill”, e a também canadiana Janika Oza, com “A History of Burning”.

O Prémio Carol Shields de Ficção é um prémio literário norte-americano criado em 2020 para homenagear a literatura escrita por mulheres ou autoras não binárias, canadianas ou americanas, e publicada em inglês.

O prémio, de caráter anual, atribui 150.000 dólares à obra vencedora e 12.500 dólares a cada um dos finalistas, fazendo deste, um dos prémios literários com maior valor monetário do mundo.

As obras canadianas em língua francesa e as americanas em língua espanhola também são elegíveis, desde que publicadas em tradução inglesa, e o júri do prémio inclui, pelo menos, um membro canadiano, um americano e um internacional.

O júri deste ano foi composto, além da presidente, pela romancista e ensaísta marroquino-americana Laila Lalami, pela canadiana Éden Robinson e pelas escritoras norte-americanas Claire Messud e Dolen Perkins-Valdez.

A primeira edição do prémio decorreu em 2023 e distinguiu a escritora e realizadora sul-asiática americana Fatimah Asghar pelo romance “When We Were Sisters”.