É para tentar reabilitar a artista que a Perve Galeria está a promover a primeira exposição individual da artista no Reino Unido, quatro anos depois da morte, em 2019, juntamente com a galeria Ed Cross Fine Art entre 01 e 29 de fevereiro em Londres.
“Para mim, é evidente que a obra dela acabou por ser menorizada, apagada e silenciada”, afirmou o diretor artístico da galeria portuguesa à agência Lusa.
Nascida em 1945 na Ilha de Moçambique, Teresa Roza d’Oliveira foi contemporânea dos artistas moçambicanos Alberto Chissano, Malangatana Ngwenya e Roberto Chichorro ou Ernesto Shikhani.
Ao lado destes artistas, foi uma importante ativista pelos direitos das mulheres e pela independência e pelo fim do colonialismo no país onde nasceu, apesar de ter pais portugueses.
Depois da independência de Moçambique, em 1975, Cabral Nunes acredita que a artista foi marginalizada por ser branca, o que a levou a separar-se no final dos anos 1970 do marido, o poeta Lourenço de Carvalho, com quem teve dois filhos, e a assumir o lesbianismo.
“Tornou-se um embaraço porque era branca e a seguir ela decidiu afirmar tudo, separou-se do marido e assumiu a homossexualidade. Nesse momento tornou-se praticamente insustentável para ela manter-se lá e acabou por vir para Portugal”, onde viveu com a companheira durante quase 30 anos, contou.
A condição de mulher liberal e emancipada numa sociedade conservadora e católica limitaram as suas oportunidades e percurso como artista, cujos trabalhos foram sendo expostos, mas sem grande destaque.
“Algumas pessoas gostavam da obra e compraram uma coisa aqui e ali, mas por valores irrisórios. Ninguém deu um passo para a reabilitar ou para lhe dar possibilidades. Ela morreu numa espécie de apagamento”, lamentou Cabral Nunes, que adquiriu o espólio artístico de Teresa Roza d'Oliveira em 2022.
Desde então, a Perve Galeria promoveu a obra da artista luso-moçambicana na feira AKAA - Also Known as Africa, em Paris, na ARCO Lisboa, feira 1-54, em Londres, e em leilões.
A obra está representada em museus em Maputo, Joanesburgo, Pretória e Durban e em coleções privadas e institucionais.
Na exposição “Sem título”, em Londres, vão ser apresentados trabalhos realizados entre a década de 1970 e 2019, que revelam um "universo plástico e imagético inconfundível, habitado por animais antropomórficos, criaturas aladas, serpentes e cenários de ressonâncias bíblicas”, descreve-se num comunicado.
Estas figuras são “corpos desalinhados, infletidos sob a ação de forças exteriores que deixam marcas visíveis, permitindo intuir feridas psíquicas”.
Cabral Nunes afirmou que Roza d’Oliveira consegue, "através da cor, através de um recurso a uma espécie de figuração não […] naif mas pueril, muito poética, quase romântica, consegue dar uma beleza a histórias muito difíceis e dramáticas”.
"Há ali uma esperança, uma positividade que ela procura imprimir na obra, não obstante a carga terrível, pesada das narrativas que ela está a abordar”, sugeriu.
O galerista Richard Gray, autor de um texto que acompanha a exposição em Londres, disse discordar daqueles que olham para a artista como uma "heroína marginalizada".
“Eu penso que ela era movida pela paixão, não pelo ardor das cruzadas ou pela compulsão para o pecado, como indicam as serpentes que povoam alguns quadros”, argumentou.
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