O título da exposição, “Todo o visível vem do invisível”, é tirado de “empréstimo” a uma obra de Jorge Martins que marca a entrada na galeria, explicou a curadora, Adelaide Duarte, assinalando que o objetivo desta mostra é “juntar artistas cujas obras convoquem diferentes [camadas] da cultura”.
Por esse motivo, a exposição que hoje se inaugura e, com ela, inaugura o novo espaço que passa a acolher a Coleção de Arte Contemporânea da Fundação Altice – até aqui itinerante -, é demonstrativa da diversidade de meios usados em arte contemporânea, com instalação, vídeo, pintura, escultura, gravura e desenho.
A obra que dá nome à exposição, datada de 1973, é um óleo sobre tela, uma pintura “plana, em duas cores [vermelho e azul], com um ‘lettering’ à volta, atravessadas por uma linha de luz”.
Quando introduz esta linha de luz, o artista diz que é descuido, é erro, dando uma outra leitura sobre o que seria um trabalho meramente abstrato: “esta luz engana, sugere outra coisa que não é”, explicou.
Segundo Adelaide Duarte, esta foi a ideia que agregou a junção destes artistas, por um lado a interpretação e as leituras que se podem fazer, por outro lado, as diferenças que permitem “aproximar artistas mais jovens, para darem continuidade a artistas âncora”.
“Há artistas aqui presentes que marcaram as vanguardas dos anos 1970 e 1980, como é o caso de Helena Almeida, [Álvaro] Lapa, [Fernando] Calhau, ou Alberto Carneiro. O objetivo da coleção era ter artistas marcantes, pilar, âncoras, e depois ter outros de gerações mais recentes com o objetivo de abrir novas linhas de trabalho e diversificar a forma de trabalhar a arte”, disse a curadora.
Um desses exemplos é “Lazy Eye”, obra de Alexandre Estrela, de 1998, uma instalação vídeo que se baseia no movimento dos olhos, como forma de trabalhar a natureza percetiva e o legado conceptual da imagem.
A abrir a exposição há duas obras: uma instalação de Pedro Cabral Santos, de 1999, intitulada “Deep Blue (a secret emotion)”, e um óleo sobre tela, sem título, de Mafalda Santos, de 2006, que, segundo Adelaide Duarte, usa uma “metodologia muito minuciosa de pintar: aproximar quadriculas e afastar. Na matriz há o conceito de nada”.
A curadora esclarece que este quadro está em confronto com a instalação de Pedro Cabral Santos, constituída por uma mangueira que desenha um submarino, na qual circula um líquido azul néon, ativado por um sensor na proximidade do público.
“Mais uma vez a ideia de interpretação. Há também uma reflexão política e ideológica, porque é um submarino da Segunda Guerra Mundial”, acrescentou.
Outra obra que salta à vista é um conjunto de seis fotografias a preto e branco e tinta acrílica azul (1977-78), de Helena Almeida, intitulada “Estudo para um enriquecimento interior”, logo seguida por um quadro de Ana Haterly, sem título, de 1972, em acrílico sobre platex, no qual a artista prolonga a ideia da escrita num gestualismo pictórico feito de rítmicas manchas.
De Álvaro Lapa há “Que horas são que horas – Descrição de um abismo”, de 1974, e “Gauguin”, de 1979, acrílico sobre contraplacado e acrílico sobre papel, respetivamente.
A primeira vai buscar inspiração à literatura, fazendo incluir textos na pintura, cujo referencial é o abstracionismo expressionista norte-americano.
Na segunda obra de Lapa, é uma figura negra informe que predomina a composição, segundo a explicação da curadora.
Adelaide Duarte destacou ainda dois conjuntos de obras em confronto: “Nothing Really”, um óleo sobre tela de Eduardo Batarda, de 1997, e dois quadros de Joaquim Rodrigo, “Vau – campo” (1962), têmpera sobre tela, e “Lisboa – Vitória” (1970, vinílico sobre platex.
Desta exposição, fazem parte ainda nomes como Ângelo de Sousa, Cabrita, Diogo Pimentão, Inês Botelho, Joaquim Bravo, João Vieira, Júlia Ventura, Maria José Oliveira, Rita Barros e Rui Sanches.
Com este projeto, a Coleção de Arte Contemporânea da Fundação Altice entra no domínio público de modo permanente.
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