(Notícia atualizada às 13h40)

O gigante do cinema francês Gérard Depardieu compareceu num tribunal de Paris esta segunda-feira (24) por alegadas agressões sexuais contra duas mulheres durante a rodagem de uma longa-metragem em 2021, no primeiro caso que vai a julgamento.

Depardieu, de 76 anos, vestido de preto, entrou no Tribunal Correcional de Paris, apoiado no ombro do seu advogado, Jéremie Assous, cerca de 20 minutos antes do início do julgamento. Em outubro, os problemas de saúde do réu forçaram o adiamento.

"Este julgamento permitir-nos-á confrontar as acusações com a realidade, com as testemunhas e com as circunstâncias dos factos. Desta forma, seremos capazes de demonstrar, sem sombra de dúvida, que todas as acusações são falsas", disse o advogado.

Depardieu, que fez mais de 200 filmes e séries de televisão, é a figura de maior destaque a enfrentar acusações de violência sexual na resposta do cinema francês ao movimento #MeToo. Em tribunal, teve o apoio da presença da atriz Fanny Ardant, uma colega e amiga de longa data.

Dezenas de feministas, algumas vestindo coletes roxos, protestaram do lado de fora do tribunal com faixas dizendo: "Acreditamos em vocês" e "Não à cultura da violação".

"É também o julgamento de uma sociedade cega à violência contra as mulheres. Não há dúvidas sobre o que ele fez", disse à imprensa Anouk Grinberg, uma das atrizes do filme que originou as acusações, pedindo que a Justiça o "puna" porque "a impunidade é insuportável".

Em declarações anteriores à agência France-Presse (AFP), já dissera que o ator usava "palavras obscenas".

"Quando os produtores contratam Depardieu para trabalhar num filme, sabem que estão a contratar um agressor", acusou.

Os factos em julgamento ocorreram durante a rodagem de "Les Volets Verts", de Jean Becker. Uma cenógrafa de 54 anos e uma assistente de realização de 34 anos acusam-no de agressão, assédio e insultos sexistas.

A primeira mulher, chamada Amélie, afirma que durante a rodagem em setembro de 2021 numa mansão em Paris, o ator gritou que queria um "ventilador" porque já não conseguia "ter uma ereção" devido ao calor.

O ator gabou-se de poder "dar orgasmos às mulheres sem lhes tocar" e que, uma hora depois, ele a "agarrou brutalmente" e apalpou a sua cintura, barriga e seios, enquanto fazia "comentários obscenos", segundo o relato da queixosa.

Sarah (pseudónimo) foi a assistente de realização do filme e também denunciou a lenda do cinema francês por tocar duas vezes nos seus "seios e nádegas" em agosto de 2021, disse ao 'site' de investigação Mediapart.

Gérard Depardieu pode ser condenado a uma pena até cinco anos de prisão e multa de 75 mil euros.

Jornadas de seis horas

Charlotte Arnould cumprimenta Anouk Grinberg esta segunda-feira

O julgamento estava marcado para outubro, mas o réu não compareceu, alegando sequelas de uma cirurgia cardíaca e diabetes, agravadas pelo stress do julgamento que se aproximava.

Segundo o seu advogado, o julgamento deve ser organizado de forma a que as sessões não excedam seis horas e que os intervalos sejam feitos "quando Gérard Depardieu precisar".

Eventuais ajustes serão detalhados no início do julgamento, afirmou o Ministério Público à AFP.

Carine Durrieu-Diebolt, advogada de uma das queixosas, afirmou que o perito garantiu que o réu estava com "boa, até mesmo muito boa saúde, em termos de problemas cardíacos e diabetes".

Vinte mulheres acusaram a estrela de cinema internacional francesa de comportamento semelhante, mas a maioria das queixas foi rejeitada devido ao prazo de prescrição.

A atriz francesa Charlotte Arnould foi a primeira a registar uma queixa e também foi vista esta segunda-feira no tribunal. Em agosto, o Ministério Público de Paris solicitou que o ator fosse julgado por violação e agressão sexual neste caso.

"Nunca, jamais abusei de uma mulher", disse o ator numa carta aberta publicada pelo jornal Le Figaro em outubro de 2023.