O que aconteceria se Hollywood, pilar financeiro dos democratas, cortasse o seu apoio a Joe Biden? O medo instalou-se após George Clooney e outros doadores pediram publicamente ao presidente norte-americano que desista da reeleição.

"Adoro Joe Biden, mas precisamos de outro candidato", escreveu o ator, realizador e produtor, em artigo publicado no jornal The New York Times.

O texto causou comoção, uma vez que Clooney participou, há algumas semanas, num evento de gala em Los Angeles que arrecadou 30 milhões de dólares (26 milhões de euros) para a campanha de Biden.

Além do impacto psicológico das palavras deste aliado do presidente a menos de quatro meses das eleições, existe a preocupação com o papel da indústria no financiamento da campanha democrata.

"Se todos estes grandes doadores se retirarem, Biden vai afundar", prevê Steve Ross, professor de história na Universidade do Sul da Califórnia e autor de um livro sobre a influência de Hollywood na política americana.

No momento em que Biden luta para manter a sua candidatura, a de Clooney não é uma voz isolada na meca do cinema. Após o seu desempenho no primeiro debate eleitoral, no mês passado, o democrata perdeu apoios.

O fundador da Netflix, Reed Hastings, a neta de Walt Disney, Abigail, e o agente Ari Emanuel anunciaram a retirada das suas contribuições para a campanha de Biden. Outras celebridades, como o escritor Stephen King, o cineasta Rob Reiner e o ator John Cusack, também tornaram públicos os seus apelos para que Biden abandone a campanha.

Mudança de lado

Embora os milhões gerados pela indústria do entretenimento americana sejam essenciais para os dois partidos, o coração e a carteira de Hollywood favoreceram os democratas nas últimas três décadas.

Na última campanha, em 2020, a indústria do entretenimento doou 104 milhões de dólares aos democratas e 13 aos republicanos, segundo a organização Open Secrets.

Num passado distante, no entanto, Hollywood era vermelha, cor do Partido Republicano. Nos anos 1980, Ronald Reagan, um ator que se tornou presidente, contou com o apoio de estrelas como Frank Sinatra e beneficiou dos cofres da indústria.

"Hollywood começou como uma base conservadora para o Partido Republicano", explicou Steve Ross. "Quando Louis B. Mayer assumiu os estúdios MGM, no fim dos anos 1920, ele tornou-os uma máquina publicitária para o partido e arrecadou enormes quantias".

Na década de 1930, os quatro irmãos à frente da Warner Bros. apoiaram o democrata Franklin D. Roosevelt com assuas estrelas e estúdios, e equilibraram a balança.

Segundo Steve Ross, a eleição de John Kennedy, em 1960, foi o ponto de viragem, quando terminou na indústria a caça às bruxas a profissionais suspeitos de serem comunistas.

Fenómeno temporário

Jeffrey Katzenberg

Mas teria Hollywood o poder de fazer Joe Biden retirar-se da disputa? O editorial de George Clooney "aumenta a pressão" sobre Biden, mas "é um fenómeno temporário", avalia o assessor democrata Steven Maviglio. "Se o presidente decidir continuar, Hollywood retomará a sua posição inicial e irá apoiá-lo."

Maviglio ressalta, no entanto, que as coisas podem ganhar um novo tom se um peso pesado, como o produtor Jeffrey Katzenberg, decidir pronunciar-se.

O ex-chefe da Disney e fundador dos estúdios DreamWorks organizou em junho o evento de gala no qual George Clooney e Julia Roberts participaram, em Los Angeles.

"Ele é o motor das máquinas", disse Maviglio. "Se ele parar, isso será significativo."