Os rumos da política do século XXI têm surpreendido o mundo com o regresso de um tipo de forças políticas que andava desaparecido desde a hecatombe da 2ª Guerra Mundial que ajudaram a causar. Líderes messiânicos, forças de extrema-direita, racismo e discursos agressivos têm ajudado a eleger líderes diversos pela Europa afora, nos Estados Unidos e no Brasil. As reações têm sido, em geral, de duras críticas a esses políticos.
Com um enfoque diferente daquilo que tem vindo à tona em muitos autores que se debruçaram sobre o tema, Eatwell e Goodwin preferiram não falar dos líderes populistas e os seus excessos e a sua agressividade apenas são tocados ao ”de leve" num livro onde o centro da análise recai no tipo de eleitor que os viabilizaram – na verdade um grupo disperso que também tem sido alvo dos críticos do populismo.
O tom dos debates tem sido exaltado e a primeira questão para os autores de um livro que procura rever a história do liberalismo democrático dos últimos anos e as acusações aos apoiantes do populismo é se tiveram dificuldade em distanciar-se e propor uma análise fria dos factos.
“Especialmente nos Estados Unidos há uma forte predominância nas principais universidades e nos veículos tradicionais dos liberais uma forte hostilidade ao populismo, que desafia muitas perspetivas liberais. Apesar de não apoiarmos esses partidos populistas, quisemos oferecer uma visão mais simpática dos seus apoiantes, que têm sido equivocadamente rotulados de ‘autoritários’, ‘racistas’ etc. Embora existam partes dentro destes partidos que o sejam de facto, a maioria deles não se identifica com isso”.
“A revolta contra a democracia liberal” do título pressupõe uma crise do sistema político que tem sido predominante desde o pós-guerra e, para os autores, parte desta mudança rumo a políticas mais radicais deve-se ao sentimento de exclusão por parte das populações em geral face aos políticos tradicionais.
Goste-se ou não, Eatwelll e Goodwin sustentam que as forças políticas “vieram para ficar”. Pergunta-se se, uma vez no poder e dados alguns exemplos já bem notórios de perseguições políticas e vocações totalitárias, se eles representam da facto uma ameaça à democracia.
“Nós não prevemos o futuro para países específicos”, dizem. “Já aconteceu em Áustria, por exemplo, do Partido da Liberdade (de extrema-direita) ser apanhado num escândalo de corrupção (o “caso Ibiza”) depois do Partido Conservador ter feito com eles uma coalizão e ter pego emprestado parte do seu programa para o seu próprio governo. Muito vai depender de como as oposições atuarem”.
E a esquerda, por que é que não tem conseguido capitalizar a insatisfação com os políticos liberais? Tudo indica ter a ver com o força do nacionalismo que insiste em perpetuar-se. “Os partidos de esquerda não têm sido hábeis para explorar o forte sentimento nacional de identidade que ainda permanece. E nos casos de políticas de esquerda que têm sobrevivido na Europa e nos Estados Unidos, elas não incluem alguns dos seus velhos pressupostos, como amplas propriedades do Estado e altas taxas de impostos”.
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