Madonna dá um novo significado às suas seis décadas de idade: relaciona-se com homens bem mais jovens, mantém um corpo invejável e, na sua última digressão, apresentou um concerto provocante, que simulava atos sexuais.

A cantora com mais vendas de sempre não é a primeira a manter-se ativa na terceira idade. Madonna segue os passos de Aretha Franklin, Cher, Dolly Parton e Stevie Nicks, que estão na casa dos 70.

Mas Madonna, que entrou para a cultura pop ao mesmo tempo em que a MTV, representa o culto à juventude como poucas artistas fizeram, e, enquanto outras se reiventaram ou protagonizaram regressos nostálgicos, a "Material Girl" nunca passou mais de quatro anos sem lançar um álbum desde a sua bem-sucedida estreia, em 1983.

O título de uma música do seu álbum mais recente, "Rebel Heart", resume a sua atitude decidida: "Bitch I'm Madonna".

Freya Jarman, uma estudiosa de música na Universidade de Liverpool que editou um livro sobre Madonna, diz que a artista pop deixou um legado e influenciou artistas mais jovens, como Lady Gaga, mas que, agora, mostra um novo tipo de relevância.

"Como uma cantora popular que está a envelhecer e ainda se mostra tão presente entre o público, ela é absolutamente relevante", assinala Freya. "Madonna destaca-se como sempre fez, sempre se interessou em provocar. Muitas estrelas parecem sair dos holofotes e regressar, enquanto Madonna não se parece deixar abater."

"Envelhecer é um pecado"

Como em toda a sua carreira, Madonna enfrentou comentários duros com o passar dos anos.

Uma ex-namorada de um dos seus antigos companheiros, o modelo brasileiro Jesús Luz, chamou-a de "velha ridícula". Muitos utilizadores das redes sociais gozaram consigo quando ela deu um beijo na boca no festival Coachella ao jovem Drake, e os tablóides são obcecados pelas mãos da cantora, uma das partes do corpo que mais revelam a idade.

Durante a entrega de um prémio da revista musical "Billboard" em 2016, Madonna disse que a sociedade permitia às mulheres serem "lindas, dóceis e sensuais", mas não que expressassem as suas opiniões ou fantasias sexuais.

"E, finalmente, não envelheçam. Porque envelhecer é um pecado. Serão criticados, será desprezados e, definitivamente, não tocarão a sua música na rádio", criticou Madonna, provavelmente referindo-se à decisão da BBC Radio 1 de não divulgar um dos seus singles recentes, no momento em que procura uma audiência mais jovem.

Madonna também persiste nos seus compromissos políticos. No ano passado, fez um discurso duro na Marcha das Mulheres, um dia depois da posse do presidente Donald Trump, e afirmou que as mulheres não aceitarão "esta nova era da tirania".

Sensual e maternal

Madonna também desafiou os conceitos de maternidade e adotou quatro crianças do Malauí, que se somaram ao seu filho e à sua filha biológicos.

A artista, que se mudou no ano passado para Lisboa, onde um dos seus filhos frequenta a escola juvenil de futebol do Benfica, incentivou os seus fãs para que, no seu 60º aniversário, façam donativos à sua obra de caridade para crianças no Malauí.

Depois de se tornar mãe, Madonna continuou a relacionar-se com homens mais jovens. "Como feminista, tenho apenas coisas boas a dizer de Madonna. Se essa é a sua preferência sexual, está a realizar uma fantasia que muitas mulheres não podem ou não querem realizar", comenta Pepper Schwartz, socióloga da Universidade de Washington, em Seattle, que estuda o envelhecimento e a sexualidade.

Pepper estima que Madonna, como várias atrizes veteranas de Hollywood, ofereça um novo modelo para as mulheres da sua geração, a do "baby boom". "Essa geração, que sempre procurou dar uma nova definição para o sexo e o género, tenta dizer: 'Não estamos prontas para desaparecer só porque estamos mais velhas.'"