As memórias de Manuel Alegre, compostas por pequenas histórias que traçam também um retrato do Portugal dos anos 1950 até ao país livre após o 25 de Abril, chega às livrarias no dia 2 de abril, anunciou a Leya.
“Memórias minhas”, livro editado pela D. Quixote, terá apresentação pública por Jaime Gama, no dia 15 de abril, na Fundação Calouste Gulbenkian, em Lisboa, contando com intervenções de Guilherme d’Oliveira Martins e Isabel Soares.
“As memórias de Manuel Alegre não são exclusivamente suas, são também as memórias de várias gerações de portugueses, memórias de um certo Portugal, que vão desde o tempo do Portugal triste e cinzento dos anos 1950, tão bem reescrito em muita da sua poesia, até ao Portugal radiante e luminoso, o do 25 de Abril e o da liberdade”, informa a Leya em comunicado.
Segundo a editora, este livro reúne um vasto conjunto de pequenas histórias, nem sempre cronologicamente arrumadas, que proporcionam ao leitor uma dupla viagem: pela vida de Manuel Alegre e ao mesmo tempo pela História recente de Portugal.
Nesta obra, o autor aborda vários episódios e personagens de relevo na sua vida, como tio-trisavô decapitado na sequência das lutas entre liberais e miguelistas, a infância em Águeda e o assobio com que comunicava com o melhor amigo, os colegas que iam descalços para escola, a tia que se referia ao sobrinho como “o nosso poeta”, sem ele ter escrito ainda qualquer verso, a eterna e dedicada proteção da avó, o estudante de Coimbra, e os discursos na Associação Académica que constituíram a sua primeira intervenção cívica.
A relação próxima e cúmplice com os amigos escritores, mas também com Adriano Correia de Oliveira e António Portugal naquela noite em que nasceu “Trova do Vento que Passa”, que a partir de então passou a ser um hino para todos aqueles que se opunham à ditadura de Salazar, é outro dos temas tratados em “Memórias minhas”.
“Há demasiadas vidas na vida de Manuel Alegre. Biografia a mais, talvez, para uma só vida. Sempre vivida de forma tensa e intensa. Que se intensificou ainda mais quando passou a sentir a PIDE sistematicamente por perto ou quando foi mobilizado para os Açores, onde conheceu Melo Antunes, com quem viria a congeminar um plano de revolta militar”, assinala a editora.
Naquela altura, já Manuel Alegre era membro do PCP, partido a que aderiu, em 1958, de forma pouco ortodoxa, e do qual viria mais tarde a desligar-se, após a invasão da Checoslováquia pelas tropas soviéticas.
Para trás, tinham ficado os passeios pelas ruas de Paris e as longas conversas com Álvaro Cunhal, histórias partilhadas neste livro, tal como as da prisão em Angola e da sua colocação nos Açores, onde tudo fez para provocar uma ação militar contra o regime, e a fuga 'a salto' pela fronteira quando não era mais possível escapar à polícia política.
Para Manuel Alegre, a luta pela liberdade e pela democracia também se fazia com poesia, pelo que, mesmo à distância, conseguiu fazer estremecer o país, quando publicou “Praça da Canção” (1965) e “O Canto e as Armas” (1967), livros que falam de Abril muito antes do 25 de Abril.
O tão desejado regresso a Portugal, já em liberdade, a visão de um certo Verão Quente, o 25 de Novembro, as razões da entrada para o PS depois de ter jurado a si mesmo que nunca mais faria parte de nenhum partido, constam também deste memorial.
Especificamente sobre o PS, Manuel Alegre recorda a sua ligação afetiva aos velhos membros do partido, a desilusão que foi ter sido por duas vezes membro de um governo, as desavenças com Mário Soares, António Guterres e José Sócrates, e com todos aqueles que pretenderam descaracterizar a essência do partido, os bastidores da sua corrida à liderança do PS e, por fim, as circunstâncias que o levaram, por duas vezes, a candidatar-se à Presidência da República.
“São estes alguns dos muitos episódios narrados na primeira pessoa por alguém que esteve presente nos acontecimentos mais relevantes da nossa História recente”, e que fazem de “Memórias Minhas” – nas palavras da editora – “um dos livros mais aguardados dos últimos tempos”.
Comentários