
"Não interessa o que digam, muitos pensam como eu", disse ator americano Robert De Niro à agência France-Presse (AFP) na quarta-feira, o dia a seguir ao duro discurso contra o presidente dos EUA Donald Trump após receber uma Palma de Ouro honorária no 78.º Festival de Cinema de Cannes.
A lendária estrela que ajudou a mudar o rumo de Hollywood, sobretudo ao lado de Martin Scorsese, com filmes como "Taxi Driver" (1976) ou "O Touro Enraivecido" (1980), está em Cannes para falar mais de política do que cinema.
Trump é um "presidente filisteu", declarou.
"Estamos a lutar ferozmente para defender a democracia" nos EUA, disse o ator de 81 anos na cerimónia de gala de abertura, antes de acrescentar que os artistas são "uma ameaça para os autocratas e fascistas deste mundo".
Questionado na quarta-feira, durante uma mesa redonda com alguns meios de comunicação internacionais sobre o silêncio de uma parte da indústria cinematográfica americana desde o regresso do republicano ao poder, De Niro diz não se sentir isolado.
"Sinto que as pessoas se vão levantar cada vez mais, vão manifestar-se, vão protestar. É o nosso país, são os EUA. Creio que a maior parte do país não quer nem ditadura nem um governo autoritário", indicou.
"Não tenho a impressão de que a indústria não me apoie. (Mas) Há grandes empresas (que) devem estar preocupadas com a raiva de Trump", afirmou.
O presidente norteamericano provocou alarme na indústria cinematográfica ao ameaçar implementar um imposto de 100% sobre os filmes produzidos fora dos EUA.
"É simplesmente uma loucura"

De forma geral, "não se pode ficar sem reação, em silêncio. As pessoas devem expressar-se e correr riscos, até mesmo de serem assediadas ou qualquer outra coisa. Não podemos simplesmente deixar o 'bully' safar-se, ponto final!", pediu o ator.
"Continuo a pensar que quanto mais protestos, manifestações, quanto mais raiva houver sobre o que está a acontecer, (mais) os membros do Congresso e do Senado devem questionar-se se querem enfrentar os seus eleitores furiosos ou Trump e os seus".
Após uma dura campanha eleitoral, e apesar das condenações em tribunais e da inimizade de grande parte dos meios de comunicação, Trump venceu a eleição de novembro. Os republicanos também conquistaram a maioria em ambas as câmaras do Congresso.
No entanto, De Niro acredita que os representantes democraticamente eleitos "precisam ter mais medo dos seus eleitores para que possamos retificar e corrigir esta injustiça. E esta é a única maneira" de fazer isso, insistiu o ator, fazendo alusão aos protestos.
Um exemplo seria a forma como algumas universidades ou escritórios jurídicos "disseram não" e recusaram-se a seguir as ordens do governo americano, disse.
"É importante porque outras pessoas veem que eles estão a lutar, isso dá-lhes força para lutar e eles sentem-se inspirados. Dizem a si mesmos que isto é possível, que é disto que os EUA são feitos", disse o ator de "Casino" (1995).
De Niro tem sido alvo de recriminações dos apoiadores de Trump em público, enquanto o presidente lhe chamou de "ator fracassado" e "perdedor" em mais de uma ocasião.
"Devemos parar o que está a acontecer, é simplesmente uma loucura", disse De Niro aos jornalistas.
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