“Uma casa para os Artistas Unidos” é o título de um comunicado emitido hoje pela companhia fundada pelo ator, encenador e realizador Jorge Silva Melo (1948-2022), face ao término do contrato com a Reitoria da Universidade de Lisboa e sem que a solução designada pela Câmara Municipal de Lisboa permita a mudança.

“Fechamos agora portas, sem qualquer perspetiva sobre ‘onde vamos morar’", escrevem, citando o título de um espetáculo da companhia, acrescentando que os AU continuam sem saber se lhes será possível “voltar a receber artistas, amigos, espectadores, autores”, nem sobre onde estarão a ensaiar.

Em março de 2022, o reitor da Universidade de Lisboa comunicou à companhia de teatro que o contrato não seria renovado e que teriam até fevereiro de 2023 para encontrar um novo local para trabalhar.

Na sequência de intervenção da Câmara Municipal de Lisboa, foi feita uma adenda ao contrato, tendo este sido prolongado até 31 de julho deste ano, com o compromisso por parte da autarquia de que seriam feitas obras no edifício d'A Capital, ao qual a companhia regressaria no “segundo semestre deste ano”.

“Depois de dois anos de reuniões e projetos, as obras no edifício não começaram e nenhuma outra solução viável surgiu”, sublinharam os Artistas Unidos, acrescentando que mantêm o “diálogo e um esforço ativo junto da Câmara Municipal de Lisboa, na expectativa de uma alternativa digna e estável que permita cumprir definitivamente os objetivos da companhia e estabelecer um trabalho duradouro e consequente com a comunidade artística e de espectadores locais”.

Todavia, até ao momento, nenhuma das “hipóteses identificadas pela Câmara Municipal de Lisboa, ou sugeridas pelos Artistas Unidos, foi considerada viável”.

Em setembro, a companhia conta abrir a temporada com a peça “Búfalos”, a última da trilogia de Pau Miró que têm vindo a apresentar, ao mesmo tempo que pretendem repor “Girafas” e “Leões” para a “apresentação conjunta das peças do autor catalão”.

“Mas não sabemos onde e a pergunta mantém-se: onde vamos morar?”, questionam.

Para a companhia, a inexistência de um teatro para os Artistas Unidos “condenará a sua ação e intervenção, mais uma vez, a uma situação de itinerância e precariedade insustentáveis às características da sua atividade”.

Os Artistas Unidos formaram-se a partir do grupo que estreou, em 1995, “António, um Rapaz de Lisboa”, de Jorge Silva Melo.

“O Fim ou tende misericórdia de nós”, “Prometeu”, de Jorge Silva Melo, “A Queda do Egoísta Johann Fatzer”, de Brecht, e “Coriolano”, de Shakespeare, foram algumas das produções com que deram os primeiros passos.

O seminário “Sem Deus nem chefe”, realizado na Antiga Fábrica Mundet, no Seixal, em que foram criadas cinco pequenas produções, cada uma coordenada por um ator que nela participava, serviu de ensaio para os dois anos e meio de trabalho no espaço do jornal A Capital/Teatro Paulo Claro, que a companhia viria a utilizar e que viu encerrado em 29 de agosto de 2002, pela Câmara Municipal de Lisboa.

Com o fecho d’A Capital, depois de apresentarem “Baal”, de Brecht, os Artistas Unidos mudaram-se para o Teatro Taborda, onde permaneceram até junho de 2005.

No Taborda, encenaram autores como os Irmãos Presniakov, Anthony Neilson, Davide Enia, Jean-Luc Lagarce, voltaram a pôr em palco peças de Pinter, Scimone, Judith Herzberg, Jon Fosse, José Maria Vieira Mendes, e lembraram Joe Orton e Jacques Prévert.

Em 2006, depois de terem renunciado à utilização do Teatro Taborda, a companhia dirigida por Jorge Silva Melo esteve instalada no antigo Convento das Mónicas, onde estrearam peças de Antonio Tarantino, Juan Mayorga, Vieira Mendes e Gerardjan Rijnders.