"Quem realmente nos escuta?": sete anos após o lançamento do movimento #MeToo e no dia de abertura do Festival de Cannes, 100 personalidades, incluindo muitas atrizes, exigem, num artigo publicado na terça-feira, 14 de maio, no jornal Le Monde, uma lei abrangente contra a violência sexual.

“Somos 100, mas na realidade somos centenas de milhares”, escrevem os signatários.

“Os nossos discursos #MeToo revelaram uma realidade envolta em negação: a violência sexista e sexual é sistémica, não excecional. No entanto, um caso parece seguir-se a outro, quem realmente nos escuta?”, notam.

As atrizes Isabelle Adjani, Charlotte Arnould, Emmanuelle Béart, Juliette Binoche, Emma de Caunes, Judith Godrèche, Isild Le Besco e Muriel Robin, bem como as escritoras Leila Slimani, Christine Angot e Vanessa Springora e os atores Philippe Torreton e Vincent Lindon destacam-se entre os signatários.

“Não somos números: mulheres e homens de todas as origens profissionais, unimo-nos para exigir uma lei abrangente contra a violência sexual e de género, ambiciosa e dotada de recursos", diz texto.

Os signatários consideram especialmente “inaceitável” que a taxa de rejeição de denúncias de violência sexual “tenha atingido a louca taxa de 94% em 2022” e alertam que já não aceitam “os efeitos dos anúncios sem seguimento”.

“A adição da palavra consentimento à lei não permitirá acompanhar o atraso abismal da França nesta área”, acreditam os signatários, em referência ao compromisso assumido em março por Emmanuel Macron.

Todos exigem "uma lei abrangente que clarifique, entre outras coisas, a definição de violação e consentimento, introduza a de incesto, julgue os violadores em série por todas as violações conhecidas, estenda as ordens de proteção às vítimas de violação, facilite a recolha de provas, crie brigadas especializadas e proíba as investigações sobre o passado sexual das vítimas”.

Esta lei deve também permitir “o acesso imediato e gratuito aos cuidados psicotraumáticos, para finalmente proporcionar os meios financeiros a esta política pública e às associações que a implementam”, acrescentam.