O livro "Quem Traiu Anne Frank?", da canadiana Rosemary Sullivan, foi duramente criticado por historiadores e organizações judaicas na Holanda. Nas suas páginas, explica que o notário judeu Arnold van den Bergh teria revelado o esconderijo da família de Anne Frank em Amesterdão para salvar a sua própria família.
O diretor do Conselho Judaico Central (CJO) dos Países Baixos considerou os resultados da investigação "extremamente especulativos e sensacionalistas".
O ex-agente do FBI Vincent Pankoke, que liderou a investigação durante seis anos, criticou esses "ataques virulentos" em comunicado na quarta-feira, que atribui à conclusão controversa do livro: um judeu traiu-os.
A adolescente Anne Frank é conhecida pelo seu diário escrito entre 1942 e 1944, enquanto se escondia com sua família num apartamento clandestino em Amesterdão. A jovem foi presa em 1944 e morreu no ano seguinte, aos 15 anos, no campo de concentração de Bergen-Belsen.
Os investigadores asseguram que as provas contra o notário são apoiadas por técnicas modernas e uma carta anónima enviada ao pai de Anne Frank após a guerra, que o identificava como informador.
'Lacunas'
As conclusões do livro "baseiam-se principalmente numa carta encontrada depois da guerra", disse à AFP o presidente do CJO, Ronny Naftaniel.
Van den Bergh, que morreu em 1950, "não se pôde defender" e as provas apresentadas contra ele "nunca encontrariam um caminho perante um tribunal", estima o representante judeu.
A investigação "aproxima-se de uma teoria da conspiração", disse John Goldsmith, presidente da Fundação Anne Frank, ao jornal suíço Blick.
Organizações judaicas holandesas pediram que o livro seja retirado de circulação.
A editora Ambo Anthos pediu desculpa "por não ter tomado uma posição mais crítica" e adiou novas edições, informou o canal de televisão público holandês NOS.
"A história simplesmente contém muitas lacunas sobre Arnold van den Bergh", disse à AFP Johannes Houwink ten Cate, professor da Universidade de Amesterdão especializado no Holocausto.
Arnold van den Bergh e a sua família esconderam-se no início de 1944, meses antes de os nazis entrarem no abrigo dos Frank, disse o professor.
"Porque Van den Bergh arriscaria revelar o seu próprio esconderijo? É inconcebível", apontou.
Teoria 'mais plausível'
A autora do livro disse em comunicado na passada segunda-feira que a investigação foi "profissional" e "profunda" e é um testemunho convincente de uma época em que os cidadãos se deparavam com escolhas impossíveis para salvar as suas famílias.
De sua parte, Pankoke repetiu que sua hipótese era "a teoria mais plausível". "Há um conjunto de provas, apoiado por depoimentos de testemunhas e uma cópia de uma prova física apresentada [...] pelo próprio Otto Frank".
Na sua opinião, o principal motivo da polémica é a afirmação de que "os judeus foram forçados a trair-se uns aos outros".
Mas identificar um suspeito não implica condená-lo, diz ele. A mensagem é clara: "sem os ocupantes nazis, nada disso teria acontecido".
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