Fazer da Altice Arena um lugar íntimo não é tarefa fácil, mas "Dangerous" e "Islands" fazem levitar os pés e perceber que a próxima hora só tem um sentido, o da dança. Perante uma enorme tela LED, dividida em dois, somos contagiados pelos tons quentes em "Say Something Loving". Se o sentido é o da dança, em sentido inverso vem o do amor.
É incrível como o álbum "xx", lançado em 2009, com quase 10 anos, continua a suscitar tanta euforia como o primeiro concerto do trio por cá, a 25 de maio de 2010, na Aula Magna. Dessa altura, sobreviveram (ao vivo) "Crystalised","VCR", o já citado "Islands", bem como "Shelter" e o sucesso instrumental que não tem explicação, "Intro". O tempo não se coaduna com essas músicas e na quinta-feira tiveram tanto sucesso como os temas dos álbuns sucessores, "Coexist" (2012) e do "I See You" (2017).
A assumirem sem medo o papel de cabeças de cartaz, Romy e Oliver mostraram-se especialmente emotivos, com a vocalista a destacar-se em "Performance", canção que a ajudou numa altura complicada. Nesta onda de temas para confortar a alma, também Oliver aproveitou para dedicar "Fiction" a toda a comunidade LGBTQ.
Embora tenha sido um concerto que não tenha mostrado nada de novo em comparação o do NOS Alive, no ano passado, a verdade é que continua a conquistar - como todas as vezes que a banda já esteve por cá.
Quem ficasse mais uma hora, tinha oportunidade de assistir ao espetáculo dos Justice. O duo francês, que também não apresenta nada de novo debaixo do sol há imensos anos, carrega a cruz de querer fazer a festa com os ovos que ainda tem, sem parecer estar fora de prazo. Com um espectáculo de luz incessante e com temas como "Safe and Sound", "D.A.N.C.E", "Genesis" ou "Waters of Nazareth", os Justice fecharam o primeiro dia com o público cansado de tanto abanar o esqueleto.
Ao longo do festival, também houve oportunidade para percorrer os palcos secundários e ver o que de interessante se faz no rock. É o caso dos britânicos Temples, que aproveitaram a vinda a Lisboa para tocar de novo temas de "Sun Structures" (2014), como "Shelter Song", "Colours To Life", mas também do mais recente "Volcano" (2017), como "Certainty". Nesta viagem com looks à anos 1970, a banda mostrou-se muito próxima ao público, principalmente na fase final.
É inevitável ver Lee Fields e não recordamos de Charles Bradley. Acompanhado dos The Expressions, o artista norte-americano trouxe toda a sua soul e funk numa festa em que desde o seu fato aos olhos, brilhou. "Wish You Were Here" ou "Make The World" foram temas que fizeram o pouco público que estava no palco EDP abanar a anca.
Pouco público porque na realidade grande parte estava no palco Super Bock para celebrar a vida de Zé Pedro, no tributo “Who the Fuck is Zé Pedro?”. Num concerto que até começou com The Clash e "London Calling", houve uma mão cheia de artistas convidados para celebrar a imortalidade e o legado do malogrado músico dos Xutos & Pontapés. Manel Cruz, Manuela Azevedo, Jorge Palma ou Paulo Gonzo foram artistas que decidiram recordar temas como "Circo de Feras", "Conta-me Histórias", "Esta Cidade" ou por fim o "Não sou o único".
Esta sexta feira, a festa continua no Parque das Nações e faz-se ao som do hip pop de Travis Scott, Anderson PAAK ou Princess Nokia.
Texto: Carlos Sousa Vieira/ Fotos: Pedro B. Maia
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