"All the light that's ours to see" ("Toda a luz que temos para ver", em tradução livre), que poderá ser vista até 22 de novembro, analisa as relações estabelecidas pelas audiências, com as imagens em movimento, "a evolução dessas relações, e a transformação das noções de partilha e de experiências coletivas", que essa evolução implicou, ao longo do tempo.
A morte dos clubes de vídeo e a história, em particular, da antiga cadeia nova-iorquina Mondo Kim's, e do destino dos seus 55 mil títulos após o encerramento, constituem ponto de partida, num trajeto que desagua nos novos meios digitais.
O projeto de Judith Barry, segundo o texto de apresentação da mostra, impõe "uma meditação sobre a mudança de hábitos no visionamento de imagens e o modo como somos modelados pelas evoluções tecnológicas e pelas novas formas dos meios de comunicação".
O objetivo é que o visitante percorra uma série de momentos históricos e, em paralelo, questione mudanças sociais, relações entre diferentes tipos de 'media' e a evolução dos hábitos de consumo.
O projeto toma como ponto de partida a verificação de que, nos anos de 1980, "o mercado dos clubes de vídeo promoveu uma transformação nas convenções", impondo "novos usos domésticos", uma "alteração radical" que depressa se expandiu a vídeojogos e redes sociais e que se ultrapassou a si mesma, com novas formas de definição de espaço e distância, inerentes aos meios digitais.
A instalação imersiva de Judith Barry materializa-se assim "num palimpsesto de imagens, em dois écrans", que questiona "as formas de visionamento", das mais antigas às mais recentes, "através de uma variedade de ambientes, desde a época medieval até ao presente".
"Dos teatros de anatomia às bibliotecas e arquivos; dos teatros convencionais aos templos e à ilusão de ótica do 'trompe-l'oeil'; das fábricas (...) aos museus; dos palácios de cinema aos panoramas; dos gabinetes de curiosidades ['kunstkammers'], à pintura renascentista e barroca e à sua relação com a perspetiva; da abstração e da imagem em movimento", tudo é posto em questão.
Artista, escritora, pedagoga, Judith Barry nasceu no Ohio, em 1954, vive e trabalha em Nova Iorque, e é apontada no universo da arte contemporânea como uma das principais pioneiras nas áreas do vídeo e da instalação
Em 2010, apresentou em Lisboa, no Museu Coleção Berardo, o projeto "Body Without Limits", em que conjugou arquitetura, arte conceptual e cultura popular.
"Os conceitos, técnicas e formas que Judith Barry tem utilizado no seu trabalho, desde finais da década de 1970, constituem uma proto-história do que muitos artistas contemporâneos utilizam hoje em dia. […] Os seus ambientes envolventes, nos quais utiliza projeções, baseiam-se em experiências que incorporam 'performance', teatro, cinema, gráficos digitais, interatividade, arquitetura e escultura", escrevia então o Museu Berardo.
Ao longo da carreira, Barry expôs nas bienais de Veneza, Berlim, Sidney, São Paulo, na Documenta, em Kassel, na Alemanha, nas principais mostras de arte contemporânea, nos Estados Unidos, como a Carnegie International e a Whitney Biennale.
“The Study for the Mirror and Garden” (2003), “Projections: mise en abyme” (1997) e “Public Fantasy” (1991) estão entre algumas das suas mais importantes instalações.
"All the light that's ours to see" teve apoio do Conselho para as Artes e do Centro de Artes e Ciências do MIT - Instituto de Tecnologia do Massachusetts, das organizações britânicas HOME e Film and Video Umbrella, da Simon Fraser University, do Canadá, e da Maumaus - Lumiar Cité/Direção-Geral das Artes.
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