O certame do distrito de Aveiro e da Área Metropolitana do Porto atribuiu assim o Grande Prémio Cinanima de Curta-Metragem à obra “Homens Bonitos”, do realizador belga Nicolas Keppens, e o Grande Prémio de Longas ao filme “Memória de um caracol”, do australiano Adam Elliot, sendo que a competição portuguesa foi ganha pela ‘curta’ “Percebes”, com que Alexandra Ramires e Laura Gonçalves venceram tanto o Prémio António Gaio como o Prémio do Público.

No primeiro caso, o júri explicou numa declaração conjunta à Lusa que “Homens Bonitos”, com a sua história de 18 minutos sobre três irmãos carecas que viajam até Istambul para fazerem transplantes capilares, se destacou “pelo seu ritmo, a qualidade da animação, o humor e o toque humano”.

Já “Memória de um caracol”, ao contar em 94 minutos como uma colecionadora de moluscos desajustada e solitária recupera de ansiedades e angústias ao conhecer uma idosa excêntrica, surpreendeu pela sua “magnífica e complexa narrativa, com personagens interessantes e uma história comovente que faz rir e chorar”.

Quanto ao vencedor português, o filme de 11 minutos que segue o ciclo de vida completo do crustáceo marinho designado como “percebes” ajuda a compreender melhor a região do Algarve e as suas gentes, e conquistou os jurados com a sua “sensibilidade” e conhecimento de causa. “Tudo está feito com uma técnica incrível, com planos muito elaborados e dinâmicos, e um estilo muito pessoal e envolvente”, disse o júri.

Além dessas três obras, a edição de 2024 do Cinanima – que esta semana teve 113 filmes a concurso – distinguiu ainda outras obras, entre as quais “Um buraco no peito”, que ganhou o Prémio Especial do Júri e também o Prémio de Melhor Argumento “pela originalidade e sensibilidade” com que os realizadores canadianos Alexandra Myotte e Jean-Sébastien Hamel recorreram a um enredo sobre duas crianças de um bairro degradado para abordar em 11 minutos o “complexo processo do luto”.

Outros três vencedores da competição internacional de curtas-metragens são “Morri em Irpin”, produção checa de 11 minutos que ganhou o Prémio de Melhor Documentário pela representação que a realizadora ucraniana Anastasiia Falileieva faz “da complexa e multifacetada realidade da guerra” no seu país-natal; “Ver o sol nascer na lua”, obra de idêntica duração que foi votada como o Melhor Filme Experimental pelo modo como o realizador francês Charles Nogier dispôs de “originalidade e utilização da luz para criar uma atmosfera misteriosa” em torno de poemas em que o escritor Victor Hugo aborda a morte da filha e a relação do Homem com a Natureza; e “Memória Entrópica”, fita de 6 minutos que mereceu o Prémio de Melhor Sonoplastia pela habilidade com que o canadiano Nicolas Brault recorreu a “som visceral” para criar “um significado totalmente novo para imagens de decadência” retiradas a álbuns de fotografias de família devastados pela água.

Quanto à competição nacional, disputada por 32 ‘curtas’, o júri selecionou duas para o Prémio Jovem Cineasta. Na categoria de realizadores menores de 18 anos, a escolha recaiu sobre o filme de 3 minutos “Nunca pares de cantar”, que, dirigido pela Anilupa – Associação de Ludotecas do Porto com os alunos da Escola EB de Fernão de Magalhães, aplica o entusiasmo musical de um fantasma a “uma mensagem muito motivadora para as crianças”; e, na rubrica para realizadores entre os 18 e os 30 anos, a seleção favoreceu “Pelas costuras”, com que Adriana Andrade, Luana Rodrigues e Daniela Tietzens apresentam em menos de 7 minutos “um filme muito bem executado e de aparência muito original” sobre a jornada de três mulheres numa luta interior “entre ser feminina e masculina”.

Finalmente, na competição relativa a estudantes de cinema, o Prémio Gaston Roch foi para o filme chinês “Detetado carater não reconhecido”, que, realizado por Song Yee, conta em 8 minutos como a descoberta de um 'microchip' com mais de três milhões de anos atrai a atenção de linguistas numa base militar. “Este ano o nível de habilidade e narrativa das obras de estudante foi muito alto”, observam os avaliadores, “mas este foi o filme que uniu enquanto júri – é uma jornada surreal com elementos visuais incríveis, ideias novas e originais, e uma leveza que não prejudica a profundidade da obra”.

Para Henrique Neves, diretor do Cinanima enquanto presidente da cooperativa Nascente, que desde 1976 organiza aquele que é “um dos festivais de cinema mais antigos do país”, o certame orçado em cerca de 200.000 euros voltou assim a “reafirmar-se como um evento incontornável no panorama da animação internacional e como espaço privilegiado para a promoção do cinema animado, da criatividade e da formação”.

Esse mérito deve-se não apenas à componente competitiva do festival, mas também à “amplitude” do seu programa paralelo de sessões panorâmicas, exposições e formação: “Entre os momentos mais marcantes desta edição, sublinho o programa ‘Cinanima nas Universidades’, que este ano contou com a colaboração de 18 instituições do Ensino Superior, e o conjunto das 10 ‘masterclasses’ orientadas por figuras de renome internacional no cinema de animação”.