A 48.ª edição do Cinanima – Festival Internacional de Cinema de Animação de Espinho arranca sexta-feira e, até 17 de novembro, terá em competição 113 filmes que, após as tonalidades da produção pós-COVID, retomam agora “paletas cromáticas fortes”.

A análise é de Henrique Neves que, enquanto presidente da Nascente - Cooperativa de Ação Cultural, dirige o certame do distrito de Aveiro e da Área Metropolitana do Porto que em 2023 registou 85.949 participantes no total das suas várias atividades.

“Após uma longa temporada em que os filmes apresentavam uma paleta cromática reduzida com o uso predominante de tons mais escuros, naquela que muitos chamaram a era dos ‘filmes pós-covid’, nesta edição as cores vibrantes voltam a encher a nossa tela de cinema. Comparando a seleção de obras deste ano com a de edições anteriores, é visível como os realizadores voltam a apostar em paletas cromáticas mais fortes e alegres”, explica.

Num leque de filmes que “vai da vanguarda mais experimental a obras de cariz mais popular”, Henrique Neves destaca ainda a predominância do recurso ao desenho em papel, que “é uma das técnicas mais antigas da animação e hoje se reinventa com a ajuda de programas informáticos”.

Outros recursos utilizados em grande escala no cartaz fílmico de 2024 são o uso de plasticina e de fantoches, e a criação em computador a duas e três dimensões – técnica cara que contrasta com os meios do próprio festival, cujo orçamento anual para sessões competitivas e retrospetivas em diversas salas, exposições, debates, oficinas e ‘masterclasses’, atividades escolares e recursos humanos é de cerca de 200.000 euros.

“Nos últimos anos tem-se vindo a registar uma estagnação nos apoios públicos ao Cinanima, tanto os de âmbito nacional, pelo Instituto do Cinema e Audiovisual, como os de nível local, pela Câmara Municipal de Espinho”, revela Henrique Neves, notando que, apesar do “carinho” de patrocinadores locais como o Grupo Solverde e a panificadora Aipal, o principal apoio financeiro ao certame vem do programa Europa Criativa

“Não fosse o trabalho competente e abnegado da pequena equipa profissional do evento, a dedicação voluntária dos ativistas do certame e da cooperativa Nascente, e também o contributo de uma parte dos trabalhadores da câmara, não seria possível manter vivo este festival, que é dos mais antigos do mundo”, realçou o mesmo responsável.

Em todo o caso, Henrique Neves garante que a edição de 2024 “será um palco privilegiado para a apresentação de trabalhos de realizadores nacionais e estrangeiros” sobre o tema Liberdade, numa opção estratégica que assinala os 50 anos do 25 de Abril e celebra “um dos valores mais universais e inspiradores da arte da animação”.

Dos 113 filmes a concurso no 48.º Cinanima, 81 disputam as várias categorias da competição internacional e 32 lutam pelo prémio para a melhor obra portuguesa. Desses últimos, quatro têm possibilidade de se qualificar para a corrida ao Óscar americano de Melhor Curta-Metragem de Animação: “Percebes, de Alexandra Ramires e Laura Gonçalves; “T-Zero”, de Vicente Nirō; “Citizen Tourist”, de Gustavo Carreiro; e “Amanhã não dão chuva”, de Maria Trigo Teixeira.

No domínio internacional, destacam-se no festival as cinco longas-metragens a concurso: “Recortes: A Minha Vida Como Animador Independente”, do norte-americano Eric Power; “O sonho de Sultana”, produção espano-alemã dirigida por Isabel Herguera; “Mataram o pianista”, coprodução portuguesa realizada por Fernando Trueba e Javier Mariscal; “Memória de um caracol”, do australiano Adam Elliot; e “Fluxo”, obra do letão Gints Zilbalodis com financiamento também belga e francês.

Quanto às sessões retrospetivas, o Cinanima de 2024 propõe quatro: “Histórias de Liberdade”, com filmes dos arquivos do Festival Internacional de Animação de Xiamen, na China; “Liberade, a derradeira busca”, com curadoria do ilustrador e historiador de animação francês Olivier Cotte; “Expressão de Liberdade”, comissariado pela portuguesa Associação de Realizadores de Animação; e “Filmes sobre a perda de liberdade e a esperança de ultrapassar traumas do passado”, com três obras selecionadas pelo realizador austríaco Thomas Renoldner.

A par da apresentação de livros de Olivier Cotte, da jornalista e historiadora Nancy Denney-Phelps, e sobre o programador de animação Manuel Matos Barbosa, o festival integra ainda uma componente de formação profissional com ‘masterclasses’ por figuras como a produtora Joanna Quinn, o músico Nik Phelps, os cineastas Coke Riobóo, Bruno Caetano e Piet Kroon, e as realizadoras Marta Pajek, Filipa Costa Gaspar, Eliane Gordeeff e Deanna Morse.

Já o habitual simpósio “Olhares sobre a Animação Portuguesa” incidirá desta vez sobre o trabalho da realizadora Regina Pessoa, que o Cinanima aponta como “uma das maiores referências da animação de autor em Portugal”.