“É uma pessoa muito importante, o sorriso e o fundador da maior banda de ‘rock and roll’ de Portugal [os Xutos & Pontapés], uma figura que ficará eternamente na história da música produzida em Portugal”, afirmou Henrique Amaro, que há mais de 20 anos tem programas dedicados à música portuguesa, em declarações à agência Lusa.
Zé Pedro morreu hoje, em Lisboa, aos 61 anos, disse à Lusa fonte próxima da família. O músico estava doente há vários meses, mas a situação foi sempre mantida de forma discreta pelo grupo, tendo só sido assumida publicamente em novembro, a propósito do concerto de fim de digressão dos Xutos & Pontapés, no Coliseu de Lisboa.
Para Henrique Amaro, a morte de um músico como Zé Pedro “é uma experiência que todos os portugueses estão a viver pela primeira vez”.
“Andamos a viver a morte dos outros, dos ícones, dos pilares da nossa 'igreja' há muito – David Bowie, Kurt Cobain – mas dos nossos, dos nossos músicos elétricos, é uma experiência nova. Felizmente não temos tido essa experiência. Até agora, assim próximo desta realidade, só o João Aguardela [dos Sitiados], o João Ribas [dos Censurados] e agora, muito, o Zé Pedro”, considerou.
O radialista destacou “um lado de simpatia que extravasa e conquista todos aqueles que com ele lidaram”.
“A ideia de palco e plateia numa banda gigantesca como os Xutos & Pontapés nunca aconteceu”, disse, acrescentando que Zé Pedro “foi uma das primeiras pessoas a quebrar isso”.
O guitarrista, considerou, “sempre conseguiu fazer da plateia até ao palco uma planície”. “O sorriso, a maneira de estar, antes e depois com as pessoas que gostavam ou com ele queriam conviver, foi exemplar e pedagógica para todos”, disse.
Henrique Amaro lembrou ainda que Zé Pedro “alargava o seu raio de ação a muitas outras iniciativas”. “Foi ele que fundou o Johnny Guitar junto com o Alex [Cortez], teve vontade de ter um clube de rock por sentir que Lisboa tinha essa falta, fez e produziu discos”, recordou.
Além disso, o guitarrista “estava sempre ao lado daquilo que acontecia, nunca foi uma pessoa adormecida em relação às bandas emergentes – fez os Censurados, os Pontos Negros, os Lulu Blind”.
José Pedro Amaro dos Santos Reis nasceu em Lisboa, em 14 de setembro de 1956, numa família de sete irmãos, “com um pai militar, não autoritário, e uma mãe militante-dos-valores-familiares”, como recordou num dos capítulos da biografia “Não sou o único” (2007), escrita pela irmã, Helena Reis.
No final na década de 1970, Zé Pedro, juntamente com Zé Leonel e Paulo Borges, decidiu criar uma banda, batizada de Delirium Tremens. Passou depois a chamar-se Xutos & Pontapés, já com a entrada de Kalú e de Tim para o lugar de Paulo Borges. O primeiro concerto realizou-se há 38 anos, em 13 de janeiro de 1979, nos Alunos de Apolo, em Lisboa.
Foto: Antena 3
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