Depois de tantos anos na informação, como e que está a sentir-se no entretenimento. Já se sente confortável no seu novo papel?
Estou a sentir-me muito bem. Já disse várias vezes que as pessoas podem fazer muitas coisas, ou uma só. Desde que sejam coisas que não colidam, acho ótimo que se possam explorar as várias capacidades de cada um. E eu penso que tenho capacidade para isto e que estou a fazer um concurso que não colide em nada com a informação. Continua a ser televisão, não é muito diferente daquilo que me habituei a fazer. Continuo a conversar com as pessoas, embora numa perspectiva diferente, claro, e sinto-me otimamente.
Qual foi a sua primeira reação quando viu a promo na televisão?
A primeira vez ri-me imenso. Achei que estava com uma imagem diferente da informação e gostei. As pessoas têm de se adaptar aos diferentes desafios, papéis, projetos para que as convidam e que aceitam. Como se costuma dizer, “cada macaco no seu galho”. E eu, neste momento, estou neste “galho” e gostei de me ver com uma imagem diferente.
Nota-se que lhe está a saber muito bem este regresso ao ativo…
Sim, é verdade. É genuíno este entusiasmo, não estou a fingir nada. Nem seria capaz de o fazer. Se não me sentisse bem já o teria dito e não o faria. A primeira coisa que eu disse quando me fizeram o convite foi que tinha de pensar um bocadinho, sobretudo para perceber se eu conseguiria fazer o programa. Tinha de perceber se me identificava ou não com o programa e se era capaz de o fazer.
Lá em casa, como é foi a reação da sua família quando recebeu o convite?
Disseram-me todos para eu aceitar. Estão todos a torcer por mim, naturalmente, e mau seria se assim não fosse.
Tem treinado a sua postura perante os concorrentes?
Não, nada disso. Eu não treino. Prefiro ir pela via natural, intuitiva, espontânea. Tenho visto alguns DVDs antigos, especialmente os do Carlos Cruz [primeiro apresentador de “Quem Quer Ser Milionário?”], que para mim foi o melhor. Sem qualquer sombra de dúvida. Ele fez muito bem televisão e especialmente o “Quem Quer Ser Milionário?”. Não quero ter a pretensão de estar a imitá-lo, até porque as pessoas são inimitáveis, mas quis saber como é que ele geria as coisas durante o concurso. Se tiver que aprender alguma coisa, prefiro aprender com ele do que com alguém de quem eu não gostei tanto.
Portanto, não quer ficar presa a um estereótipo...
É preciso criar suspense, enganar o concorrente de vez em quando. Fazer bluff...
É boa jogadora de póquer?
Não posso dizer, não é? (risos). Mas sou! Vou dizer que sim, mesmo não sendo. Sou uma pessoa insegura por natureza, mas aqui não posso deixar transparecê-lo.
Tem noção de que o público não tem ideia de si como sendo insegura? Pelo contrário, até porque sempre passou uma imagem muito forte na informação?
Claro que sim. Não posso chegar ali e estar a dizer: “ai e tal, que eu sou muito insegura, desculpem lá qualquer coisinha”. É para se fazer e faz-se. Quando me põem uma câmara à frente eu esqueço-me das inseguranças, esqueço-me de tudo menos daquilo que é preciso fazer.
Na rua tem sido abordada pelas pessoas? O que lhe têm dito?
Toda a gente me tem dado os parabéns, embora alguns digam que têm pena que não seja na informação.
E a Manuela também pensa assim? Também tem pena que não seja na informação?
Neste momento, não. Antes de aparecer este projeto só pensava na informação, mas agora não.
O que acha da informação que se faz nesta altura nos canais generalistas?
O facto de eu não ter pena de não estar de regresso na informação também tem a ver com isso. Eu sei que estamos numa época de “silly season”, mas nunca fui muito adepta de se fazer uma informação muito na base do “fait divers” e da agenda, que é o que tem acontecido. E durante o verão os “fait divers” têm ocupado a maior parte dos noticiários. E eu continuo a achar que há tanta coisa que se pode fazer em informação que não vejo a necessidade disto. Os jornais são quase todos iguais, é o roteiro da gastronomia, dos restaurantes, dos não sei o quê... Ocupa-se imenso tempo precioso da informação com estas coisas, que no máximo podem ser o fecho do jornal e mesmo assim nunca fui muito adepta. O espaço dos jornais é um espaço de informação nobre e deve ser aproveitado de forma condensada para aquilo que é importante. Para muita gente aquela é a única informação que têm e estar a gastá-lo com coisinhas não faz sentido. E eu, para fazer uma informação a brincar, prefiro fazer um programa sério.
Este programa surgiu então na hora certa?
Sim. Eu vou estar a fazer um programa sério, com conteúdo cultural, mas vou ser sempre jornalista.
Espera então regressar à informação?
Nunca espero nem nunca esperei nada na minha vida. Foram sempre as coisas que vieram ter comigo e no máximo espero que outras coisas venham, como este convite veio.
Acha que o seu regresso à RTP é positivo para a subida das audiências do horário nobre do canal?
Faço o melhor que me for possível. Mas cocorro, ou melhor, o programa concorre com telenovelas. Agora, o “Quem Quer Ser Milionário?” é um concurso fantástico e uma excelente alternativa à quantidade de novelas dos outros canais. Uma alternativa inteligente, de qualidade e aquilo que a RTP deve fazer, serviço público. As pessoas já deviam estar fartas de tanta novela. É que já não se aguentam as histórias inverosímeis e completamente sem sentido... Eu, seguramente, fiquei farta de novelas. E este é um programa de família em que as pessoas em casa podem até pôr os seus conhecimentos à prova e passar uns excelentes 50 minutos.
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