Sebastian Stan mergulhou 24 horas por dia, sete dias por semana, na infância de Donald Trump para pesquisar o novo filme "The Apprentice" ("O Aprendiz", em tradução literal) – e chegou a uma conclusão inesperada.
“Muito do comportamento e da personalidade são muito mais relacionáveis do que queremos admitir”, disse a estrela de Hollywood, aclamada pela crítica pela sua inquietante interpretação do magnata e novamente na corrida à presidência dos EUA na sua juventude,a alguns meses após ganhar o prémio de melhor interpretação no festival de Berlim por "A Different Man".
O filme, que estreou no Festival de Cinema de Cannes, gerou enorme controvérsia e ameaças legais por parte da equipa do ex-presidente, especialmente por uma cena onde Trump é mostrado a violar a sua mulher.
Mas grande parte do filme retrata um Trump mais jovem como um intruso nervoso e ingénuo dos bairros periféricos de Nova Iorque, tentando encontrar o seu caminho no mundo cruel e elitista de Manhattan, sobre o qual sabe pouco.
É uma abordagem que certamente surpreenderá, ou mesmo irritará, qualquer um que espere ou queira um trabalho político de esquerda.
Para Stan, que nasceu na Roménia comunista e só se mudou para os EUA aos 12 anos, teve ressonância essa sensação do esforço de Trump em integrar-se.
“A minha mãe disse-me que precisava tornar-me alguém”, disse à France-Presse em entrevista.
"Havia muita vergonha, quando cresci, vindo da Roménia... 'não contes às pessoas' e 'integra-te'."
Na última década, Stan, de 41 anos, alcançou a fama em grande parte graças ao seu papel como o Soldado de Inverno numa série de filmes da Marvel recordistas nas bilheteiras.
Mas Stan traçou paralelismos entre a mensagem da sua mãe e a intensa pressão exercida sobre Trump e os seus irmãos por Fred, o duro progenitor.
Quando o filme começa, Donald Trump não consegue convencer o seu pai de que pode fechar um ousado negócio envolvendo um hotel.
Em vez disso, é Roy Cohn, um advogado de grande talento com poderosas ligações políticas, que acredita no jovem promotor imobiliário, colocando-o sob a sua proteção, numa também elogiada interpretação de Jeremy Strong, da série "Succession".
Embora Trump se mostre inicialmente incomodado com a disponibilidade de Cohn para "violar alguns detalhes técnicos", rapidamente adota e até supera a adoção das artes das trevas pelo mentor na sua busca pelo reconhecimento.
O filme mostra como “qualquer pessoa que cresce na América” pode ser corrompida por uma sociedade capitalista que recompensa a ganância, a crueldade e a ambição, disse Stan.
"Nada é suficientemente bom. Olha-se para as pessoas a concretizar coisas, mas sempre há mais, tem de se ter mais", notou.
"A cena mais difícil"
Stan preparou-se para o papel devorando entrevistas em revistas, vendo vídeos e ouvindo obsessivamente áudios de Trump do final dos anos 70 e início dos anos 80.
Ele ouvia 'sem parar', estive-se a conduzir, a andar, a fazer compras ou até mesmo “com fones de ouvido na casa de banho”.
Stan tentou evitar as muitas paródias ao estilo do programa de variedades "Saturday Night Live" do Trump da era posterior, observando que "apenas era preciso colocar de parte o barulho".
O papel exigiu que Stan ganhasse peso com o passar dos anos e ele "tentou comer o máximo que pude" antes de certas cenas. Como nem tudo foi filmado em sequência, outras exigiram próteses.
E depois há a tão comentada cena de violação.
Ela ocorre após uma discussão, onde a primeira esposa de Trump, Ivana, o menospreza por ficar gordo e careca.
Na vida real, Ivana acusou Trump de violá-la durante o processo de divórcio de 1989, mas retratou-se em 2015, um ano antes das eleições que o tornaram presidente dos EUA.
Stan disse que a preparação para aquela cena não o incomodou particularmente.
Em vez disso, “a cena mais difícil, da qual sempre tive medo”, foi outra onde Trump lamenta a perda do seu irmão mais velho, Freddy, um alcoólico, que morreu aos 42 anos.
Trump é mostrado a importar-se genuinamente com Freddy e também Ivana, antes de a sua humanidade ser corroída pelo poder e pela riqueza que o devora.
“É interessante o muito que não queremos lembrar-nos sobre ele”, disse Stan.
Ainda não há confirmação de uma estreia de "The Apprentice" em Portugal.read_player.html -->
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