
A Cinemateca Portuguesa dedica, em julho, em Lisboa, um ciclo de cinema a Eduardo Serra, “o mais internacional dos diretores de fotografia portugueses”, que inclui filmes que ele também realizou.
De acordo com a Cinemateca, o ciclo “Interpretar um texto com luz” conta com uma escolha de 16 filmes da cinematografia de Eduardo Serra, revelando um pouco do trabalho como diretor de fotografia em Portugal, França e EUA.
O programa começa a 8 de julho com uma sessão em que são mostrados os três documentários que Eduardo Serra realizou, entre os anos 1970 e 1990: "Um aniversário", "Rink-Hockey" e "Cinéma portugais? Un mod d'emploi".
“Um aniversário” (1975) foi rodado em abril de 1975 e assinala um ano da revolução de Abril de 1974, num tempo em que Eduardo Serra estava já a viver em Paris há uma década.
O filme “acompanha as primeiras eleições livres, para a Assembleia Constituinte, a partir das experiências dos trabalhadores agrícolas de três aldeias do distrito de Beja”, refere a Cinemateca.
“Rink-Hockey” (1982) é um retrato do campeonato do mundo de Hóquei em Patins, em Barcelos, em 1982, no qual Portugal se sagrou campeão, e “Cinéma portugais? Un mod d’emploi” (1990), um “ensaio crítico-histórico sobre as atribulações do cinema português”, encomendado pelo canal de televisão SEPT.
Eduardo Serra é o único português a ter sido nomeado duas vezes para os Óscares, pela direção de fotografia de “Asas do Amor” (1997), de Ian Softley, e “Rapariga com Brinco de Pérola” (2003), de Peter Webber, filme que será exibido na Cinemateca.
Nascido em Lisboa, em 1943, Eduardo Serra rumou a Paris para estudar cinema, tendo deixado para trás um curso de engenharia no Instituto Superior Técnico, uma intensa atividade cineclubista e uma discordância com as políticas da ditadura do Estado Novo.
Em Paris, teve formação em cinema, na ENS Louis Lumière, e tirou o curso de História de Arte e Arqueologia na Sorbonne. Começou por ser assistente de câmara, tendo trabalhado em mais de trinta filmes ao longo de uma década, até que no início dos anos 1980 experimentou direção de fotografia, estreando-se com “Sem sombra de pecado” (1982), de José Fonseca e Costa, que vai passar na Cinemateca.
Eduardo Serra, que completa 82 anos em outubro, voltaria a trabalhar com mais realizadores portugueses, como Fernando Lopes e José Mário Grilo, mas foi entre Paris e Londres que fez carreira e que deu o salto para Hollywood.
No cinema francês, fez sete filmes com Claude Chabrol e nove com Patrice Leconte, o último dos quais em 2013, em “A Promise”.
Eduardo Serra assinou ainda a fotografia de filmes como “Diamante de Sangue”, de Edward Zwick, “Jude”, de Michael Winterbottom, “O Protegido”, de M. Night Shyamalan, e “Beyond the sea”, de Kevin Spacey. Também trabalhou com David Yates nos dois filmes da saga “Harry Potter”, “Harry Potter e os Talismãs da Morte”.
Eduardo Serra, cujo método passava por respeitar a noção de luz natural, foi distinguido com prémios de carreira em 2014, pela Sociedade de Diretores de Fotografia dos EUA e pela Academia Portuguesa de Cinema.
Em 2004, foi agraciado com o grau de comendador da Ordem do Infante D. Henrique, pelo então presidente da República Jorge Sampaio, e em 2017 foi-lhe atribuído o grau de Grande-Oficial, da mesma ordem, pelo chefe de Estado Marcelo Rebelo de Sousa.
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