"Disney100: The Exhibition", a mostra que "regressa às origens" dos estúdios, chegou a Londres este fim de semana, onde vai ficar até julho, coincidindo com a comemoração dos 100 anos da Disney, que se assinalam hoje, 16 de outubro.
Hoje, a Disney estreia também a curta-metragem “Once Upon a Studio” (“Era uma vez um estúdio”), representação de tudo o que fez, que mistura personagens animadas históricas no cenário real onde tudo começou, em Burbank, Califórnia.
Aquando da inauguração da exposição em Los Angeles, em julho passado, a diretora dos Arquivos Walt Disney, Becky Cline, explicou à Lusa como foi concebida e como decidiram “regressar às origens”.
“Não queríamos fazer uma história cronológica, achámos que seria um pouco aborrecido”, disse a arquivista-chefe, nos bastidores da empresa em Burbank. “Queríamos contar a história de uma forma diferente e regressar às origens, ao próprio Walt Disney, e focar-nos no que ele fez de especial”.
Há exatamente cem anos, Walter Elias Disney, um jovem animador de Chicago, com 22 anos, e o seu irmão Roy, de 30, criaram o Disney Brothers Cartoon Studio, em Los Angeles, que só viria a ter o seu primeiro grande êxito em 1928, com "Steamboat Willie", e a estreia da sua primeira 'estrela', Rato Mickey.
Para trás ficavam as primeiras aventuras de Alice, inspiradas na personagem criada por Lewis Carroll, e Oswald, o coelho sortudo, primeira tentativa de herói animado. Em 1929, a companhia daria lugar à Walt Disney Productions, sob a direção do seu mentor, e aos sucessos que a afirmaram na década de 1930, sobretudo em redor de Mickey e seus novos amigos, e das curtas-metragens que abriam as sessões de cinema em sala, até que a primeira 'longa' animada, "Branca de Neve e os Sete Anões", conquistou o lugar de honra, em 1938.
Nas décadas seguintes, seguiram-se "Pinóquio", "Cinderela", "Bambi", "Fantasia", "Dumbo", que subiu aos Óscares, mais a produção televisiva e para cinema, que levou a criações como "Davy Crockett" e a filmes como “O Livro da Selva”, "Mary Poppins" e "Emílio e os Detetives", sem esquecer a expansão dos parques temáticos, sempre com base na omnipresença de Mickey, do seu clube e dos seus amigos.
A morte de Walt Disney, em 1966, e a passagem da produção de animação para segundo plano levaram ao período de menos sucesso da companhia - os chamados "anos negros da animação" -, mesmo contando com "Os Aristogatos" e a fantasia sobre imagem real de "Herbie".
A partir de 1986, porém, sob a presidência de Michael Eisner, inicia-se um novo período de expansão, com a aquisição de produtoras como a Pixar, fundada pela LucasFilm de George Lucas, e a maior aposta na 'marca da casa', com produções como "Bela e o Monstro", "Rei Leão", "Aladino", "Pocahontas".
Com a Pixar, a Disney permite-se abrir caminho ao uso de novas tecnologias na animação. Surgem assim "Toy Story", "Uma Vida de Inseto", "Monstros e Companhia", "Cars", "Ratatouille", "Up", "Brave", "Divertida-Mente", "Elemental".
Através destes e de outros filmes, também se conta o caminho da Disney nas três últimas décadas. E mais alguns dos seus Óscares, para produções como "À Procura de Nemo", "Wall-E", "Coco" e "Soul: Uma Aventura com Alma".
Atualmente Disney significa igualmente Marvel, 21st Century Fox, Jim Henson Company, LucasFilm, congregando heróis de Luke Skywalker a Indiana Jones, Miss Piggy e Cocas, de Homer e Bart Simpson ao Homem Aranha e Incrível Hulk.
Quando a plataforma Disney+ foi lançada em 2019, conseguiu, num único dia, mais de 10 milhões de assinantes. Cem anos depois da fundação, a Disney tem delegações em mais de 30 países, e a sua programação regular chega a mais de cem.
A exposição de quase 1.400 metros quadrados e dez galerias acompanha a história, com as suas origens bem visíveis, focando-se no que Disney "fez de especial".
Foi concebida para passar por várias cidades: começou em Filadélfia, esteve em Munique, foi inaugurada em Los Angeles no passado dia 08 de julho, quando faltavam cem dias para o centenário, e chegou a Londres na sexta-feira.
“Walt sempre disse que contar histórias é o centro de tudo o que fazemos. Ele é um dos melhores contadores de histórias de sempre”, disse Becky Cline à Lusa, em julho.
São as histórias que estão evidentes na mostra e também nos Arquivos da Walt Disney, em Burbank, que a Lusa visitou em julho, e onde é possível encontrar autênticos tesouros da história da empresa.
Há, por exemplo, o primeiro bilhete de sempre para a abertura da Disneyland, em julho de 1955. Há também um exemplar da primeira edição da banda desenhada do Rato Mickey em Portugal um mês mais tarde, a 26 de agosto de 1955.
A revista tinha partes a cores e em preto e branco e custava 2,5 escudos - ou 25 tostões. O arquivista Ed Ovalle explicou que os custos de imprimir a cores eram elevados e ficavam a cargo dos distribuidores locais, pelo que isso poderá ter influenciado a decisão de imprimir partes em preto e branco.
Nos múltiplos armazéns dos Arquivos cabem todo o tipo de documentos, 'merchandising', publicações e raridades ligadas à Disney, muitas das quais são enviadas por fãs ou antigos empregados.
No complexo também está restaurado, segundo a disposição original, o escritório onde Walt Disney trabalhou de 1940 a 1966, ano da sua morte.
As instalações em Burbank existem desde 1939 e, segundo a especialista de 'tour' Julia Dimayuga, foram revolucionárias para a indústria naquela altura. “Ao contrário dos outros estúdios, isto foi construído de forma a acelerar o processo de animação”, referiu. “Tínhamos a montagem de um lado e o cinema do outro lado da rua”.
Hoje, quando passam cem anos da Disney, a companhia assinala a data com a estreia da curta-metragem “Once Upon a Studio”.
Realizada por Trent Correy e Dan Abraham, “Era uma vez um estúdio”, representação de tudo o que a Disney fez, conta uma história de comunhão e celebração, em cerca de oito minutos e meio, roçando o humor nalgumas partes e a comoção noutras, com 543 personagens de 85 filmes e curtas-metragens da Disney, que se cruzam no cenário de Burbank.
“Sabíamos desde o início que queríamos representar tudo, desde a Branca de Neve ao novo Wish, por isso tivemos muito por onde escolher”, disse o realizador Trent Correy, num evento de antecipação no cinema El Capitan, em Hollywood.
Com 100 anos de personagens, os desenhos animados têm um visual distinto relativo à época em que foram lançados, mas não se trata de animação de arquivo.
“Não usámos qualquer tecnologia de IA [Inteligência Artificial] para fazer esta curta”, afirmou Correy. “A animação é 100% nova. Os dálmatas sentados em frente à televisão foram desenhados para parecer daquela era”, continuou o realizador.
O mesmo com os personagens de “O Livro da Selva”, "Pinóquio" e outros clássicos. A equipa “fez um grande esforço” para garantir que os desenhos tinham o aspeto esboçado dos anos de 1950 e de 1960, ou da era em que surgiram.
Uma escolha similar foi feita para a música, criada por Dave Metzger. Apesar de ser nova, a banda sonora remete para os filmes originais, como por exemplo “As Aventuras de Peter Pan”, de 1953.
Em Portugal, “Once Upon a Studio” estará disponível no Disney+, em todos os canais Fox, no Disney Channel e Disney Júnior e no 24kitchen.
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