
O Festival de Veneza homenageou na segunda-feira Kim Novak, atribuindo um prémio pela carreira à relutante estrela e heroína loira platinada de "Vertigo" (1958), de Alfred Hitchcock ("A Mulher Que Viveu Duas Vezes" em Portugal), agora com 92 anos.
Novak recebeu uma ovação de pé e muitos aplausos ao receber o Leão de Ouro das mãos do cineasta mexicano Guillermo del Toro, antes da estreia mundial do documentário "Kim Novak's Vertigo", realizado por Alexandre Philippe.
Usando um vestido de seda verde-esmeralda e preta, a antiga atriz que escolheu desafiar o sistema de estúdios de Hollywood levantou os braços em agradecimento aos aplausos, murmurando "obrigada" para o público.
"Gostaria de agradecer aos deuses lá no Céu, a todos eles. Nenhum em particular. Apenas a todos eles", disse Novak.
"Deram-me um presente tão grande, mas esperaram, esperaram até que fosse o momento mais significativo da minha vida, no fim da minha vida, para receber isto de vocês."

Novak é mais conhecida por interpretar o arrepiante duplo papel da loira suicida Madeleine Elster e da empregada de balcão morena Judy Barton no clássico de Hitchcock "A Mulher Que Viveu Duas Vezes", contracenando com James Stewart.
Mas ela teve uma carreira curta, recusando-se a aceitar o controlo férreo dos executivos dos estúdios e abandonando Hollywood menos de uma década depois para se dedicar à pintura.
Novak foi "um dos ícones mais acarinhados de toda uma era do cinema de Hollywood... até ao seu prematuro e voluntário exílio da jaula dourada de Los Angeles", disse o diretor artístico do festival, Alberto Barbera, ao anunciar o prémio em junho.
Outros papéis memoráveis de Novak incluem uma prostituta de grande coração em "Beija-me, Estúpido" (1964), de Billy Wilder, uma bruxa em "Sortilégio de Amor" (1958), de Richard Quine, uma adúltera noutro filme de Quine, "Um Estranho na Minha Vida" (1960), e a jovem de uma pequena cidade que escapa de uma vida convencional quando se apaixona pelo forasteiro interpretado por William Holden em "Piquenique" (1955), de Joshua Logan.
Escondendo-se dos holofotes

Numa conferência de imprensa na segunda-feira, a empresária de Novak, Sue Cameron — que também é produtora executiva de "Kim Novak's Vertigo" — disse que Novak "não gosta dos holofotes", preferindo "ficar em casa com os seus cavalos e cães".
"Queria dar-lhe isto de presente porque ela esteve tão escondida todos estes anos. Queria que ela tivesse mais um 'Uau' na sua vida", disse Cameron sobre o documentário.
"Agora, ela tem 92. Faz exercício com pesos todos os dias. Ela anda. Tem um rancho de cinco hectares com três ilhas, cavalos e pastagens para cavalos. Monta os cavalos. Caminha pela pastagem. Não desiste. Esta não é alguém que age de acordo com a sua idade", disse Cameron.
Depois de anos a evitar os holofotes, Novak foi convidada de honra no festival de cinema de Cannes, em 2013, participando numa exibição especial para assinalar o restauro de "A Mulher Que Viveu Duas Vezes".
Enquanto apresentadora na cerimónia dos Óscares de 2014, Novak foi alvo de uma vaga de comentários cruéis sobre a sua aparência.
Nos seus últimos anos, Novak, que foi casada duas vezes, incluindo com o veterinário equino Robert Malloy de 1976 até à sua morte em 2020, criou cavalos e lamas no Oregon e na Califórnia.
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