
Hollywood reagiu com ceticismo ao anúncio do presidente Donald Trump de impor tarifas de 100% a filmes produzidos fora dos EUA, uma ideia que especialistas da indústria consideram contraproducente.
"Não faz nenhum sentido", disse na segunda-feira à agência France-Presse (AFP) o advogado do setor de entretenimento Jonathan Handel.
"Se uma cena de ação envolve o Tom Cruise a subir a Torre Eiffel, o que deveríamos fazer? Filmar na réplica da Torre Eiffel em Las Vegas? Não faz sentido", exemplificou Handel, que lembrou que filmes de grande bilheteira como "Missão Impossível" são rodados no exterior por razões artísticas.
Numa mensagem na rede Truth Social, Trump pediu ao Departamento de Comércio para "iniciar imediatamente o processo de instituir uma tarifa de 100% a qualquer filme que chegue ao nosso país e que tenha sido produzido no exterior".
"Queremos filmes feitos nos EUA, de novo!", acrescentou.
A resposta veio rapidamente.
"Estamos a trabalhar nisso", respondeu nas redes sociais o secretário de Comércio, Howard Lutnick.
Embora a Casa Branca não tenha explicado como pretende executar esse tipo de cobrança fiscal sobre produções que muitas vezes são filmadas digitalmente e transferidas online ou por unidades de memória, a troca de mensagens provocou queda nas ações de estúdios como Netflix, Disney e Paramount.
"Estamos a falar de Propriedade Intelectual", comentou Handel.
"Pode-se comprar um bilhete para o cinema, mas não se pode comprar um filme como se compra uma peça de roupa ou um carro", afirmou.
"Objetivos comuns"
As palavras de Trump chegam justamente quando Hollywood luta para recuperar os seus dias de glória e domínio.
Los Angeles continua a ser a capital do entretenimento dos EUA, mas registou um número historicamente baixo de dias de rodagem no ano passado.
A indústria foi duramente afetada pela pandemia e, depois, pelas greves de argumentistas e atores que, em 2023, praticamente paralisaram todas as produções.
Paralelamente, muitas produções migraram para outros estados e também para outros países, atraídas por incentivos fiscais, ofertas económicas e razões criativas.
Este ano, a Netflix anunciou no México um investimento de mil milhões de dólares para desenvolver filmes e programas de TV ao longo de quatro anos.
Por isso, a ideia de atrair mais produções para os EUA é vista com bons olhos por algumas vozes da indústria.
"Na verdade, concordo com o objetivo, assim como acredito que muitos executivos do cinema também concordariam", disse um investidor sob anonimato à revista especializada Deadline.
E acrescentou: "É uma loucura como tantas produções foram para fora por causa da falta de incentivos [fiscais] aqui. Mas, obviamente, o que precisamos são de incentivos, não de tarifas. As tarifas sufocariam o que resta do setor."
Matthew D. Loeb, do sindicato IATSE, que representa cerca de 168 mil trabalhadores dos bastidores do cinema e da televisão na América do Norte, declarou em comunicado que "os EUA precisam de uma resposta federal equilibrada para trazer de volta os empregos do setor audiovisual".
"Esperamos mais informações sobre o plano tarifário proposto pela administração, mas mantemos firme a nossa convicção de que qualquer política comercial futura não deve prejudicar os nossos membros canadianos, nem a indústria como um todo", acrescentou.
O sindicato de atores SAG-AFTRA afirmou que aguarda "os detalhes específicos" da proposta para "avançar no diálogo a fim de alcançar os nossos objetivos comuns".
Mais cedo, a Casa Branca disse que nenhuma decisão foi tomada.
"A administração está a explorar todas as opções para executar a ordem do presidente Trump", disse o porta-voz Kush Desai em comunicado.
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