Juliette Binoche, presidente do júri do 78.º Festival de Cinema de Cannes, que decorrerá de 13 a 24 de maio, é uma das atrizes francesas mais famosas no estrangeiro, uma estrela que conquistou o seu estatuto graças a papéis exigentes.

Ela é uma das poucas atrizes francesas a receber um Óscar e trabalhou com expoentes do cinema do seu país, como Jean-Luc Godard, o polaco Krzysztof Kieslowski, o canadiano David Cronenberg e o austríaco Michael Haneke.

Para Binoche, Cannes é acima de tudo a recordação de um prémio de interpretação em 2010 por "Cópia Certificada", de Abbas Kiarostami, uma "história universal que mistura amor e arte e as suas aparências enganadoras", lembrou o festival após anunciar a sua nomeação como presidente do júri.

"Eu Vos Saúdo, Maria"

Nascida a 9 de março de 1964 em Paris, Juliette Binoche cresceu num ambiente artístico, com um pai que era mímico, encenador e escultor, e uma mãe atriz.

Estudou teatro no Conservatório antes da estreia no cinema em 1985 sob a direção de Godard ("Eu Vos Saúdo, Maria"), Jacques Doillon ("A vida de família) e André Téchiné, que a tornou famosa com "Encontro" ("Rendez-Vous" no original).

Musa de Leos Carax, de quem foi parceira, entrou em "Má Raça" (1986) e depois em "Os Amantes da Ponte Nova" (1991), onde interpretou uma jovem que vive nas ruas e na pobreza.

"Os Amantes da Ponte Nova"

Binoche testemunhou recentemente perante uma comissão parlamentar francesa sobre violência na cultura, incluindo o cinema, criada após o movimento #MeToo finalmente ter impacto na França.

Numa longa entrevista ao jornal Libération em abril de 2024, Binoche relatou os inúmeros testes de nudez, "comentários sexistas" e agressões de realizadores ou agentes que teve de rejeitar nas décadas de 1980 e 1990.

"Estou aliviada por ver e ouvir os testemunhos de mulheres e homens que ousam expor os abusos que sofreram", confessava.

O sucesso de "O Paciente Inglês"

" Paciente Inglês"

Nas telas, a sua carreira internacional começou com "A Insustentável Leveza do Ser", do norte-americano Philip Kaufman (1988), e "Relações Proibidas", de Louis Malle (1992).

A sua personalidade revela-se comovedora em "Três Cores: Azul" (1993), de Krzysztof Kieslowski.

Em 1996 e sem ser a favorita, ganhou surpreendentemente o Óscar de Melhor Atriz Secundária por "O Paciente Inglês", ao lado dos atores britânicos Ralph Fiennes e Kristin Scott Thomas, tornando-se a segunda atriz francesa a ganhar a estatueta, depois de Simone Signoret.

Juliette Binoche também é uma das poucas atrizes a ganhar um prémio de interpretação nos três principais festivais de cinema: Cannes, Veneza e Berlim.

Fez então uma série de filmes de época, como "Os Filhos do Século", ao lado do compatriota Benoît Magimel, com quem tem uma filha.

"Código Desconhecido"

Trabalha com Michael Haneke ("Código Desconhecido", "Nada a Esconder"), o francês Olivier Assayas ("Tempos de Verão", "As Nuvens de Sils Maria", "Vidas Duplas") e Bruno Dumont ("Camille Claudel 1915") e o taiwanês Hou Hsiao Hsien ("O Voo do Balão Vermelho").

Em 2022, destaca-se em "Ouistreham - Entre Dois Mundos", de Emmanuel Carrère, que lhe rendeu a sua décima nomeação para os César franceses (o equivalente ao Óscar).

Nesse filme, interpreta uma escritora famosa, inspirada pela jornalista Florence Aubenas, que escreve sobre desemprego e precariedade ao juntar-se a um grupo de empregadas de limpeza.

Um papel alinhado com o seu ativismo por uma sociedade mais justa e o meio ambiente.

"Ouistreham - Entre Dois Mundos"

Também apoiou publicamente cineastas iranianos alvo das autoridades do seu país.

Antecipando um pouco o seu destino, interpretou o seu próprio papel num episódio de 2017 da famosa série de televisão "Dez Por Cento"... como a atriz escolhida para ser a mestre de cerimónias no Festival de Cinema de Cannes.

Regressou aos ecrãs com "O Regresso de Ulisses", uma adaptação da "Odisseia" de Homero onde reencontrou Ralph Fiennes onde interpreta Penélope, a mulher que resiste a todos enquanto espera o regresso do seu amado.