A mostra competitiva do Festival de Cannes prossegue na quinta-feira com a exibição de "Sirât", do espanhol Oliver Laxe, e "Dossier 137", do francês Dominik Moll, num dia que também será marcado pela homenagem a uma fotógrafa palestiniana que morreu em Gaza, tema de um documentário.

"Sirat" relata a viagem de um pai (Sergi López) e do seu filho ao Marrocos para buscar a sua filha e irmã, desaparecida numa festa de música eletrónica no deserto. Laxe, de 43 anos, disputa a Palma de Ouro pela primeira vez.

"Case 137"

O outro filme em competição da quinta-feira é o 'thriller' policial "Case 137", de Dominik Moll, que já concorreu ao prémio máximo do festival com "Harry, um Amigo Ao Seu Dispor" (2000) e "Lemming" (2005), e cujo filme anterior, "A Noite do Dia 12" (2022), triunfou nos César (os "Óscares franceses").

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A história centra-se na investigação interna de violência policial envolvendo um jovem ferido pelo disparo de uma arma Flash-Ball durante uma manifestação ligadas ao movimento dos Coletes Amarelos.

Num gesto inédito, a organização do festival proibiu o acesso à estreia de um ator secundário, Théo Navarro-Mussy, acusado de agressões sexuais.

No total, 22 filmes aspiram ao prémio máximo de Cannes, a Palma de Ouro, incluindo o brasileiro "O Agente Secreto", de Kleber Mendonça Filho.

Homenagem à fotógrafa Fatima Hassouna

"Put Your Soul on Your Hand and Walk"

O terceiro dia do festival também será marcado pela homenagem à fotojornalista palestiniana Fatima Hassouna, que morreu aos 25 anos num bombardeamento israelita em Gaza a 16 de abril.

Hassouna é a protagonista do documentário "Put Your Soul on Your Hand and Walk", da cineasta iraniana Sepideh Farsi, que será exibido na mostra paralela ACID.

Um dia antes da sua morte, a fotógrafa recebeu a notícia de que o filme fora selecionado para Cannes.

Até o fim, a realizadora acreditou que a jovem "viajaria, que a guerra iria terminar", explicou numa entrevista à agência France-Presse.

"Enganámo-nos ao acreditar, a realidade ultrapassou-nos", completou.

O documentário mostra as conversas por vídeo entre a realizadora, refugiada em Paris, e a fotojornalista, na sua casa em Gaza.

A sua morte, e a de toda a sua família, com exceção da sua mãe, no bombardeamento israelita, comoveu o mundo do cinema.

No dia de abertura do festival, mais de 380 nomes de destaque do cinema, incluindo Pedro Almodóvar, Susan Sarandon e Richard Gere, assinaram um texto de denúncia para não "se permanecer em silêncio enquanto acontece um genocídio em Gaza".

Na cerimónia de abertura, a presidente do júri, a atriz francesa Juliette Binoche, homenageou a jovem fotógrafa que "deveria estar aqui entre nós", ao mesmo tempo que recordou "os reféns de 7 de outubro e todos os reféns, os prisioneiros".

A 7 de outubro de 2023, milicianos islamistas do Hamas mataram 1.218 pessoas em Israel, a maioria civis, segundo uma contagem da AFP baseada em dados oficiais.

Também sequestraram 251 pessoas, das quais 57 continuam detidas em Gaza, incluindo 34 que o Exército israelita declarou mortas.

A ofensiva israelita em represália matou quase 53.000 pessoas em Gaza, a maioria civis, segundo dados do Ministério da Saúde do território palestino, considerados fiáveis pelas Nações Unidas.