Iniciado há sete anos e com a estreia várias vezes adiada, o filme chega aos cinemas iranianos a 26 de agosto, marcado por meses de polémica sobre a legitimidade religiosa de apresentar imagens de Maomé, uma proibição estrita para a corrente ortodoxa muçulmana sunita, mas não para o ramo xiita, maioritário no Irão.
Apesar de financiado e apoiado pelo regime islâmico, o facto de mostrar imagens de Maomé, embora sempre de forma difusa e sem mostrar a cara, levou várias instituições religiosas islâmicas, incluindo a influente universidade de Al-Azhar, no Cairo, a pedir o cancelamento da produção.
“O filme é muito sensível em relação a isso, existem 1.600 milhões de muçulmanos. Desde o princípio, o nosso esforço tem sido trabalhar, tanto o argumento como a realização, para que não se veja o rosto do profeta, mesmo na infância. Vê-se a sua figura, mas não a sua cara”, explicou à agência EFE o realizador.
Durante a produção, Majidi apresentou o argumento do filme a várias autoridades religiosas, tanto sunitas como xiitas, e todas, segundo os produtores, aprovaram a sua exibição.
O filme foi assumidamente pensado para exaltar a palavra do profeta e ser um marco na histórica cinematográfica do mundo islâmico, narrando ao longo de 171 minutos a vida de Maomé, desde o nascimento até à adolescência na turbulenta cidade de Meca de finais do século VI.
Além de Majidi, nomeado para um Óscar pelo filme de 1997 “As Crianças do Céu”, participaram na realização cineastas internacionais como o diretor de fotografia italiano Vittorio Storano, vencedor de três Óscares (“Apocalipse Now”, “Reds” e “O Último Imperador”), o editor de imagem também italiano Roberto Perpignani e o especialista em efeitos visuais norte-americano Scott E. Anderson.
Apesar de Majidi sublinhar repetidamente que o que distingue o filme é “a visão do profeta como mensageiro de paz e de misericórdia”, a produção multimilionária coloca o drama religioso num cenário espetacular, com tempestades de pedras, batalhas de elefantes e uma minuciosa reprodução da vida na época.
As filmagens decorreram num deserto a sul de Teerão, onde ao longo de dois anos foram construídas réplicas das cidades sagradas de Meca e Medina.
Mohamed Reza Saberi, um dos produtores, afirmou à agência espanhola que o cenário foi construído “para durar 25 anos”, com o objetivo de ali rodar outras películas históricas e fazer do local uma atração turística.
Outra polémica, menor, suscitada pelo filme foi o orçamento: segundo a imprensa iraniana, foram gastos 500 milhões de dólares, número categoricamente desmentido pelos produtores, que afirmam ter custado 37 milhões, mais do que qualquer filme muçulmano realizado até agora.
Comentários