Nascidos numa família onde a música corre nas veias, os Gilsons surgiram em 2018 quase por acaso, numa dinâmica que combina espontaneidade com uma herança que é, ao mesmo tempo, desafio e inspiração. “Foi a partir de um concerto acústico que tudo começou”, explica João Gil, revelando como a banda encontrou a sua identidade num ambiente de total liberdade criativa, longe de pressões ou expectativas pré-definidas.

O percurso do grupo no mundo da música começou com a banda anterior, Sinara, que funcionou como um laboratório para compreender as exigências do mercado musical. A transição para os Gilsons permitiu-lhes ocupar o centro do palco: “Na Sinara, nenhum de nós era o vocalista principal, mas neste novo projeto tivemos a oportunidade de nos mostrar como cantores e compositores”, conta. O concerto inicial, que juntou João, Francisco e José em voz e guitarra, acabou por ser o ponto de partida para uma carreira que hoje já se projeta internacionalmente.

“Nesse primeiro concerto já tocámos algumas das músicas que mais tarde iríamos gravar — ‘Love Love’, ‘Várias Queixas’, talvez até ‘Vento Alecrim’. E tudo continuou de forma muito espontânea. Fomos gravando, lançando, sem grandes pretensões”, recorda.

Essa naturalidade marca toda a trajetória dos Gilsons, desde a forma como distribuem as tarefas até à maneira como compõem. “Há divisões que acontecem naturalmente, não estão escritas, mas cada um acaba por assumir alguns papéis”, explica. Francisco, por exemplo, está mais ligado ao lado visual e à produção de vídeos, enquanto José (que não participou nesta entrevista) está mais focado na produção musical.

Apesar do peso do apelido que carregam, os Gilsons procuram afirmar a sua própria identidade. “Não somos a primeira geração da família a lidar com isso”, refere Francisco. “Tivemos exemplos próximos — tios, primos, muita gente na música. E com eles aprendemos a respeitar e valorizar a individualidade de cada um. Levamos esse ensinamento connosco — de preservar quem somos e, através disso, traçar o nosso próprio caminho.”

Nos seus discos, como “Pra Gente Acordar”, lançado em 2022 e nomeado para o Grammy Latino de Melhor Álbum de Música Contemporânea em Língua Portuguesa, e o EP “Várias Queixas”, de 2019, temas como o afeto, a esperança e o equilíbrio estão sempre presentes. Essa leveza, no entanto, não é uma estratégia: “Acho que é mesmo um reflexo natural. Nunca decidimos conscientemente: ‘Vamos compor sobre este ou aquele tema.’ Juntamos as nossas músicas, e são elas que vão ditando o caminho”, garante Francisco.

No próximo dia 17 de julho, o trio regressa aos palcos portugueses. O histórico, afirmam, é positivo: “Portugal sempre nos recebeu muito bem”, recorda, referindo concertos memoráveis em Paredes de Coura, Sines, Oeiras e no Coliseu de Lisboa. “O público português é dos mais interessantes que já encontramos. Tem algo especial: a língua. Essa ligação muda tudo.”

João destaca o entusiasmo sentido em palco: “Em Paredes de Coura foi quase surreal ouvir o público a cantar as músicas com sotaque português! Foi uma revelação. Não eram só brasileiro, era mesmo o público local.”

O concerto no Ageas Cooljazz, em Cascais, promete repetir essa ligação. “Podem esperar um concerto completo dos Gilsons, com muita energia, muita positividade e muita troca com o público”, assegura João. Francisco acrescenta: “É bonito ver esse carinho pela obra como um todo. Estamos ansiosos por sentir isso outra vez.”

Ainda que guardem alguns detalhes para si, o trio confidenciou estar em estúdio a preparar um novo disco. “Podem esperar novidades já no próximo ano”, garante João. “Há muito tempo que não lançamos um disco novo e estamos muito entusiasmados.”

Os Gilsons sobem ao Palco Ageas, no Hipódromo Manuel Possolo, em Cascais, no dia 17 de julho. As portas abrem às 19h, com Jota.pê a subir ao palco às 21h00 e o trio brasileiro a começar às 22h30. Os bilhetes estão disponíveis aqui.