Durante o concerto, Salvador assumiu ter uma banda mexicana, outra de boleros cubanos, uma de tributo a Jacques Brel e, mesmo assim, não conseguia tocar no Festival Músicas do Mundo (FMM).
“Música toda do mundo, só faltava uma banda de jazz japonês. Mas era por uma boa razão. O meu disco mais recente, "Timbre", tem muitas influências do mundo inteiro, muito folclore da América do Sul, acho que é o disco mais FMM que eu fiz e estou muito feliz de estar aqui”, revelou ao público do festival.
A acompanhar Salvador Sobral no concerto no FMM, no Castelo de Sines, estiveram André Rosinha, no contrabaixo, André Santos, na guitarra, Joel Silva, na bateria, Katerina L’Dokova, no piano, Eva Fernandez, na voz e saxofone, e Magali Sare, na voz e flauta.
“É o concerto mais especial do meu verão e não deixes que os outros programadores dos outros concertos oiçam isto”, afirmou entre risos.
“Adoro todo o tipo de culturas, todo o tipo de línguas, todo o tipo de músicas e quero muito ser parte deste festival sempre, mesmo que seja para carregar monitores, eu vou fazê-lo, quero fazer parte deste festival que é utópico”, confessou em entrevista à Lusa poucos minutos antes do ensaio de som.
Salvador Sobral já tinha estado no FMM a convite "do amigo" António Zambujo para ver o artista brasileiro Chico César. Nessa altura, o único vencedor português da Eurovisão terá dito ao diretor artístico do FMM, Carlos Seixas, para o chamar porque tinha muitos grupos de música do mundo.
Poliglota, Salvador descreve "Timbre" como sendo um álbum “bastante mais divertido”, feito de celebração, cor, alegria, com muitas vozes, muito folclórico, daí enquadrar-se no festival.
Na criação do disco mais recente, o cantautor terá procurado as músicas tradicionais da América do Sul, da América do Norte e de Portugal. Ao vivo, mesmo as canções que não estão no disco têm “muita cor e celebração”.
Após múltiplas colaborações, como “De la mano de tu voz”, com a mexicana Silvana Estrada e com catalã Sílvia Pérez Cruz, que considera ter a “melhor voz de sempre”, Salvador afirmou que só lhe falta gravar com Stevie Wonder e Paul McCartney.
“Acho que nunca vai acontecer, mas posso ficar com esse sonho para sempre”, ironizou.
Inspirado pelo mote do mundo presente no nome do festival, Salvador disse acompanhar com “bastante” preocupação a situação mundial, com "o genocídio” na Palestina e com a guerra na Ucrânia.
Também a nível nacional, sente-se desconfortável com as medidas tomadas pelo Governo que “não estão a ir para o lado que deveriam ir” e, por esse motivo, nunca fizeram tanta falta festivais como o FMM, em que os princípios são a tolerância, a igualdade e os princípios da democracia e da liberdade.
Confessou também estar “muito preocupado” com a crise da habitação. “Não estou a ver medidas a serem tomadas no sentido da habitação, apenas no sentido contrário, de mais turismo e de mais alojamentos locais”. O aeroporto, exemplificou, está “completamente colapsado” e quase que perdia a flautista e a saxofonista por voos cancelados.
“Creio que alguém dos Nirvana afirmava que fazer digressões é uma coisa muito pouco sustentável do ponto de vista ambiental. E a verdade é que têm de ser tomadas medidas em relação a isso. O nosso país que não tem uma linha férrea aceitável e sinto que isso irá demorar anos a mudar. Portugal não está ligado com o resto da Europa e sinto que isso é muito problemático. Como é que vamos encontrar maneiras de fazer esta digressão mais sustentável do ponto de vista ambiental? Não tenho essa resposta, mas acho que há muitas cabeças pensantes que podem chegar a conclusões boas”.
Após o FMM, Salvador Sobral vai atuar em Espanha, regressando depois a Portugal para mais concertos. No inverno, o cantautor segue para uma nova digressão europeia.
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