“É tudo a pandemia. Toda a gente ficou fechada, farta, sem saber o que fazer. O sentimento de revolta é muito comum a toda a gente que passou por isto. Enquanto músicos, parámos de viajar, de tocar. Foi bastante complicado. Foi a nossa maneira de também exorcizar demónios”, explicou à Lusa Carolina Brandão, que, com Carlos de Jesus, compõe o grupo agora ajudados por Frederico Ferreira.
O quarto álbum, que sucede a “Endless Voyage”, tem edição da Cão da Garagem e das internacionais Stolen Body Records e da Only Lovers Records, chegando em formato físico às lojas hoje.
Esperando que este não preconize “uma guerra nuclear”, brincou Carlos de Jesus, o novo álbum “foi uma forma catártica de expulsar esse sentimento de revolta” em torno da pandemia, que consideram comum a todas as pessoas.
“Lançámos um disco e quando íamos a promovê-lo, fechou tudo. Foi quase como se tivesse ido para o lixo, aquele trabalho em que pusemos tanto de nós, e tanto tempo. Tiraram-nos o tapete. A pandemia toda foi um bocado um buraco negro, ninguém sabe o tempo que passou, como passou”, recordou Carolina Brandão.
Para a música, esse foi o clique para tentar “outra abordagem”, trocando a “pressa de fazer tudo” por uma forma “mais calma” de trabalhar, já que foram “obrigados a esperar”.
Aprenderam a gravar e misturar, trabalharam a composição e foram gravando e afinando as músicas que queriam lançar, num disco que, diz Carlos de Jesus, é “o primeiro 100% Sunflowers”, com todos os meios de produção nas suas mãos.
Numa viagem introspetiva que procura refletir a angústia existencial no cerne de um dilema entre esperar e ver o tempo a passar, no meio de uma pessoa se sentir “chateada e revoltada”, explicou Carolina Brandão, os pensamentos pesados surgem, como com Carlos de Jesus, que ponderou deixar a música.
“É daí que vem a angústia, esses dois lados da moeda. Queríamos demorar o nosso tempo a fazer as coisas, mas também despachar isto”, afirmou o músico.
Os Sunflowers viraram-se, então, para alterar a forma de trabalhar, de dezenas de concertos nacionais e internacionais, um pouco por todo o lado, para um período mais focado no estúdio e em “evoluir como banda”, depois de sentirem que em 2020 “ia ser o ano”, lamentou Carolina Brandão.
“É o primeiro disco em que vamos um bocadinho dentro de nós e decidimos soltar um bocadinho a nossa revolta”, concretizou Carlos de Jesus.
A companheira de banda vê este disco, que é acompanhado também por uma ‘fanzine’, como uma fotografia de um momento de “espera, que fique melhor, e parece que as coisas não melhoram nunca”.
O disco é apresentado na Galeria Zé dos Bois, no sábado, passando depois por Aveiro, no GrETUA em 22 de abril, e pelo festival Party Sleep Repeat, em São João da Madeira, em 23 de abril, com numerosas outras datas já anunciadas.
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