A obra será publicada pela editora A Bela e o Monstro, em 15 fascículos mensais, fac-similados, a serem lançados com o jornal Público.
“Para além da beleza gráfica das capas dos 15 fascículos, distribuídos entre 1948 e 1950, acreditamos que do ponto de vista editorial é uma mais-valia para os leitores terem acesso à forma e ao conceito original idealizado por Maria Lamas, que criou a sua própria editora, a Actualis, para o lançamento desta obra”, disse à Lusa o editor, João Pinto Sousa, justificando assim esta opção.
Nos anos 1950/60, era comum as edições em fascículos para tentar escapar ao crivo da censura, de que é exemplo a obra “Lisboa Cidade Triste e Alegre”, de Victor Palla e Costa Martins, também reeditada como originalmente pela mesma editora.
A par com a circunstância dos 75 anos da edição original, a decisão de reeditar “As mulheres do meu país” prende-se com o facto de hoje ser praticamente impossível encontrar um exemplar, mesmo em alfarrabistas.
Além disso, “julgamos que o percurso e os desígnios que nortearam a vida de Maria Lamas (direitos das mulheres/ igualdade de género) justificam plenamente esta reedição”, afirmou, sublinhando que não só é “uma obra de referência para o movimento da emancipação feminina”, como também um retrato de época com “um imenso valor histórico e antropológico”.
“Constitui um importante marco no movimento pelos direitos das mulheres em Portugal, já que denuncia a discriminação a que eram sujeitas, em todas as camadas sociais, durante o Estado Novo, apesar do seu relevante contributo para a economia nacional”, acrescentou João Pinto Sousa.
Resultado de uma investigação no terreno, feita pela autora de norte a sul do país, para a qual contribuíram depoimentos de mulheres com os mais diversos perfis, a obra “As Mulheres do Meu País” constitui um retrato da condição das mulheres portuguesas na primeira metade do século XX, como viviam e trabalhavam.
“Num tempo em que o papel das mulheres na sociedade não era reconhecido e nem sequer constituía tema de reflexão, dar-lhes visibilidade foi uma iniciativa ousada e que, sem surpresa, provocou enorme desconforto no regime patriarcal então vigente”, afirmou o editor.
Passados 50 anos sobre a revolução que deu às mulheres a emancipação cívica, “não faltam razões para que elas continuem a lutar pela equidade, buscando o ideal que inspirou Maria Lamas”.
Por isso mesmo, durante os próximos 15 meses, e coincidindo com a saída dos fascículos, 15 mulheres portuguesas – de várias idades, profissões e ideologias – serão convidadas a escrever um texto refletindo sobre o tema: “Que igualdade em 50 anos de liberdade”, produzindo pensamento sobre o presente e o futuro.
“Todo este projeto é um tributo às mulheres portuguesas, porque a verdade é que os direitos entretanto consagrados pela lei e a sua expressão prática continuam, em muitos casos, a rodar a duas velocidades, provando que o sexismo ainda está longe de ser erradicado da sociedade portuguesa”, considerou.
O editor adiantou que na primeira fase de lançamento, “As mulheres do meu país” será um exclusivo com o jornal Público, mas que, finda a distribuição, será equacionada a distribuição na rede livreira, nomeadamente a RELI – Rede de Livrarias Independentes.
O primeiro fascículo, a ser disponibilizado na quarta-feira, terá um valor de 8,90 euros. Os restantes serão vendidos por 12,90 euros.
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