A Assembleia da República aprovou hoje por unanimidade um voto de pesar pela morte do autor argentino Quino, na semana passada, lembrando o percurso do criador de Mafalda e destacando o trabalho “ao serviço de inúmeras causas”.
Quino, célebre por ter criado a contestatária personagem de banda desenhada Mafalda, morreu em 30 de setembro em Mendoza, na Argentina, aos 88 anos, na sequência de um acidente vascular cerebral que tinha sofrido na semana anterior.
Filho de espanhóis, nascido em Mendoza, em 1932, Joaquín Salvador Lavado, conhecido como Quino, desenhou e publicou vários livros de desenho gráfico para um público mais adulto, nos quais predomina um humor corrosivo e negro sobre a realidade social e política.
Ficou célebre, porém, por uma personagem que se tornou numa das mais improváveis comentadoras políticas da atualidade, Mafalda, uma menina que detestava sopa, adorava os Beatles e tinha monólogos preocupados e existencialistas, em frente a um globo terrestre.
O voto apresentado pelo PAN e aprovado pelo parlamento assinala o percurso do argentino que se tornou “o autor de banda desenhada em língua espanhola mais traduzido e vendido de sempre”.
“Vendeu milhões de livros em todo o mundo e a sua banda desenhada está traduzida em mais de trinta línguas”, aponta o texto, que refere também que a personagem Mafalda “ganhou vida” nos anos 60 e “serviu de veículo para Quino comunicar as suas críticas perante injustiças sociais e as suas preocupações face ao futuro da humanidade e do planeta”.
“Mafalda e outras personagens de Quino tinham em comum o humor com que encaravam as realidades sociais e políticas a nível mundial”, acrescenta o documento.
O voto destaca ainda que, “já depois de Mafalda, Quino trabalhou ao serviço de inúmeras causas, entre elas campanhas da UNICEF, da Cruz Vermelha e até do próprio governo”.
Quino imaginou Mafalda para um anúncio publicitário a uma marca de eletrodomésticos, para o qual lhe pediram que desenhasse a história de uma família típica da classe média.
A banda desenhada não chegou a ser publicada, mas Quino recuperou a personagem Mafalda quando o convidaram para publicar no Primera Plana, na altura um jornal que procurava fazer uma reflexão crítica da atualidade argentina e internacional. Foi a 29 de setembro de 1964 que Mafalda surgiu.
Das tiras de Quino saíam comentários sobre a ordem do mundo, a luta de classes, o capitalismo e o comunismo, mas também, de forma mais subtil, sobre a situação política e social argentina.
Quino deixou de desenhar Mafalda em 1973, admitindo ter ficado extenuado, e continuou a desenhar e a publicar outros desenhos de humor, compilados em diversos álbuns, mas foi a criança contestatária que mais fez espalhar o seu nome e o seu trabalho pelo mundo.
Em 2014, o Festival Internacional de Banda Desenhada de Angoulême, em França, e o AmadoraBD dedicaram exposições a Quino, a propósito dos 50 anos da criação de Mafalda.
O diário El País descreveu-o como "o cartunista mais internacional e mais traduzido em língua espanhola, e talvez o mais cativante", com centenas de tiras publicadas na imprensa de todo o mundo, e recorda que, em 2014, Quino foi distinguido com o Prémio Príncipe das Astúrias de Comunicação e Humanidades.
Comentários