"O que importam os anos?" pergunta Mafalda numa tira, a irreverente miúda da banda desenhada nascida na Argentina, que fez 60 anos no domingo, celebrados numa praça homónima de Buenos Aires, repleta de murais da personagem que, transformada em escultura, povoa os parques do mundo.
60 anos depois, a miúda rebelde continua atual e encontra novas formas de ser contada: as esculturas da personagem que percorrem as praças do mundo, a futura série da Netflix e o projeto "Mafalda Immersive", uma exposição que entra pelo mundo dos quadradinhos usando ferramentas de realidade virtual.
“O discurso da Mafalda é mais relevante do que nunca”, diz Maitena, a cartoonista argentina famosa pelo seu “Nós, As Mulheres 1” e que esteve nos festejos proferindo a palestra “Mafalda e Quino contados por Maitena”.
«O mundo da Mafalda está partido, ferido. Falava, há 60 anos, do que está a acontecer agora com o planeta”, afirma Maitena.
Numa tira da BD, Mafalda ouve a rádio dizer “o governo fixou preços máximos para os bens de primeira necessidade”. E pergunta: "E a quanto está o bom senso?". Com as suas reflexões, a personagem cómico atravessa gerações e é lida por pais e filhos.
“Li quando era pequena e também li quando cresci, hoje lemos com a minha filha”, disse à France-Presse (AFP) Adriana Sosa, de 36 anos, para quem as críticas de Mafalda ainda “continuam válidas”.
Escritores, comediantes e cartunistas participaram no evento. Houve também oficinas de desenho repletas de crianças que esboçaram a própria versão da personagem ou dos seus amigos, enquanto cartazes com diálogos da BD minavam a praça, pendurados nas árvores e em estacas na relva.
Mafalditas pelo mundo
Mafalda foi criada por Joaquín "Quino" Lavado - falecido há quatro anos -, publicada pela primeira vez a 29 de setembro de 1964 e pela última a 25 de junho de 1973.
Os seus livros foram traduzidos para mais de 30 idiomas e mais de 20 milhões de exemplares foram vendidos só na Argentina.
Agora, uma versão audiovisual também pode ser desfrutada em streaming, já que a Netflix anunciou em agosto que lançará uma série de animação dirigida pelo realizador argentino Juan José Campanella, vencedor dos Óscares por "O Segredo dos Seus Olhos".
É um fenómeno que percorre o mundo e não só no papel, mas também nas esculturas de Pablo Irrgang, que inaugurou na última sexta-feira uma figura de Mafalda no Jardim das Artes da Fundação Cultural em Santiago, Chile.
“Estou a levar mafalditas pelo mundo (…) se a minha contagem não estiver errada, esta é a décima”, disse Irrgang à AFP na inauguração.
A escultura de 80 centímetros de altura mostra a miúda de cabelo curto e franja a usar um vestido vermelho. Embora as cores mudem nas outras cidades onde a obra está localizada, como Lima, Caracas ou Barcelona.
“Mafalda é como um símbolo desses ideais promovidos por esta miúda que promoveu a paz, rebelde, contestatária, um símbolo da minha geração”, diz Irrgang, que vai inaugurar mais esculturas este ano no México, Madrid e São Paulo.
Mas Irrgang não quer apenas as praças do mundo, também quer chegar à ONU.
«Na banda desenhada, Mafalda dizia sempreque queria ser intérprete nas Nações Unidas para mudar a mensagem como intérprete aos interlocutores e promover a paz. Com Quino dissemos isso como uma piada e agora estou a assumir isso como um verdadeiro desafio”, disse Irrgang.
Entrar na vida de Mafalda
Mafalda reinventa-se constantemente para “alcançar novos públicos”, explicou à AFP Damián Kirzner, presidente da Newsock, produtora que realiza o projeto “Mafalda Immersive”.
É um passeio por diferentes salas onde será representada a vida da personagem cómico, aproveitando os recursos proporcionados pela tecnologia de realidade virtual, realidade aumentada, hologramas, entre outros, e que está prevista para ser inaugurada em Buenos Aires no primeiro semestre de 2026.
“As pessoas poderão entrar no apartamento da Mafalda ou no armazém do Manolito [outro personagem da BD)”, explicou Kirzner.
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