A vaga de extorsões e insegurança que assola Lima, capital do Peru, chegou às artes: um famoso festival de teatro de rua decidiu não convidar companhias estrangeiras devido ao alto risco, anunciaram os seus organizadores na terça-feira.

O Festival Internacional de Teatro Aberto de Rua (Fiteca, pela sigla original), que se realiza há 23 anos no populoso bairro de Comas, no nordeste da capital peruana, tornou-se uma vítima indireta do crime organizado.

"Este ano evitámos convidar grupos de teatro estrangeiros por causa da questão da extorsão; mais vale prevenir", disse à agência France-Presse (AFP) Jorge Rodríguez, um dos promotores.

Desta vez o evento contará com companhias locais, além de muralistas.

Lima, com 10 milhões de habitantes, está em estado de emergência desde março. O governo enviou militares às ruas para apoiar a polícia na luta contra os muitos gangues.

Desde empresas de transporte até ao pequeno comércio, passando pelas escolas, estão sujeitas à chantagem de organizações que os obrigam a pagar extorsões usando explosivos ou assassinos (os sicários).

Pelo menos 15 motoristas foram mortos este ano por recusarem-se a aceitar a chantagem, de acordo com as autoridades.

Em edições anteriores, o Fiteca recebeu grupos da Argentina, Brasil, Colômbia, Equador e Venezuela, entre outros países. Mas este ano apenas um artista espanhol estará presente como convidado.

"Cada grupo de teatro é composto por cerca de 40 artistas, o que torna mais difícil" garantir a sua segurança, explicou Rodríguez.

Nesse sentido, os organizadores reclamaram da falta de apoio das autoridades perante a atual insegurança.

"Apoiar a cultura nos bairros ajuda a prevenir atos de violência", comentou Rodríguez.