Por unanimidade, o júri distinguiu a autora de "Minha Senhora de Mim" “pela persistência na defesa da liberdade e na luta, sem tréguas, pela igualdade de género”, antes e depois do 25 de Abril de 1974, referindo que esta “personalidade da cultura portuguesa” transporta “elegância criativa” para a sua obra literária, para o seu trabalho jornalístico e para a sua “sempre generosa intervenção cívica”.
As mulheres portuguesas, sublinha ainda o júri, “muito devem à ousadia libertadora da autora” de "Rosa Sangrenta": “A emancipação começa pelo corpo, como lugar da alegria, do afeto, do amor sem pecado”, e “pela voz”, lê-se no comunicado enviado à comunicação social.
A escritora e jornalista Maria Teresa Horta nasceu em 1937, em Lisboa, e é a primeira mulher distinguida com o Prémio Rodrigues Sampaio.
Maria Teresa Horta frequentou a Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, tendo-se estreado na poesia com “Espelho Inicial” (1960). A sua obra poética editada em Portugal foi coligida em “Poesia Reunida” (2009), a que se seguiu “Poemas para Leonor” (2012), “A Dama e o Unicórnio” (2013), “Anunciações” (2016) – Prémio Autores SPA / Melhor Livro de Poesia 2017 –, “Poesis” (2017) e “Estranhezas” (2018).
Além da obra poética, a escritora tem também obra no domínio da ficção, destacando-se o livro “Novas Cartas Portuguesas”, publicado em 1972 em coautoria com Maria Isabel Barreno e Maria Velho da Costa e que é considerado pedra fundamental do movimento feminista português.
O livro “Novas Cartas Portuguesas”, uma obra que valeu às autoras, as “Três Marias”, um processo judicial da ditadura “por ofensa à moral pública”, foi banido e censurado pelo regime da Oliveira Salazar, no qual as autoras denunciavam as opressões a que as mulheres eram sujeitas, criticavam a guerra colonial e a violência fascista.
Na ficção, é também autora dos romances “Ambas as Mãos sobre o Corpo” (1970), “Ema” (1984) e “A Paixão segundo Constança H.” (1994).
O Prémio Rodrigues Sampaio, bianual, no valor monetário de 7.500 euros, distingue uma personalidade da cultura portuguesa que, ao longo do seu percurso, “tenha praticado os valores da liberdade, da cidadania, como forma de aproximação entre as pessoas, com vista a uma sociedade verdadeiramente democrática”.
O galardão foi instituído nos anos 50 do século XX como perpetuação da memória de Rodrigues Sampaio, combatente da liberdade de expressão durante o liberalismo, e distinguiu personalidades como Joel Serrão, José Manuel Tengarrinha, Victor de Sá, Óscar Lopes, Vasco Graça Moura, Hélder Pacheco e António Borges Coelho.
Na década de 1980, por falta de apoios, o prémio foi suspenso, tendo sido retomado em 2022, com o patrocínio do município de Esposende.
Inês Cardoso, diretora do Jornal de Notícias, Francisco Duarte Mangas, presidente da Associação de Jornalistas e Homens de Letras do Porto, Luísa Leite, em representação do município de Esposende, Francisco Marques, descendente de Rodrigues Sampaio e representante da família, Valdemar Cruz, jornalista e escritor, compuseram o júri na edição de 2024.
Maria Teresa Horta venceu, em 2021, o Prémio Literário Casino da Póvoa 2021, com o livro “Estranhezas”, atribuído no âmbito do encontro literário Correntes d'Escritas (Póvoa de Varzim). Em 2020 foi distinguida com a Medalha de Mérito Cultural do Ministério da Cultura, pelo seu “percurso ímpar na história da cultura portuguesa”.
Em 2014, ano em que lhe foi atribuído o Prémio Consagração de Carreira pela Sociedade Portuguesa de Autores, editou o volume de contos “Meninas”, três anos depois de, em 2011, ter publicado “As Luzes de Leonor”, romance sobre Marquesa de Alorna distinguido com o Prémio D. Dinis, da Fundação Casa de Mateus.
Em março deste ano, foi publicada a sua biografia, da autoria de Patrícia Reis: "A Desobediente - Biografia de Maria Teresa Horta"
Desde 2004 que é Grande-Oficial da Ordem do Infante D. Henrique.
Em 2022, recebeu o grau de Grande-Oficial da Ordem da Liberdade.
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