A Fundação José Saramago reagiu hoje (16) à morte do escritor chileno Luis Sepúlveda, recordando a relação de amizade, solidariedade e camaradagem que existiu entre os dois escritores.
Numa nota de pesar publicada no Twitter pela fundação, é ainda acrescentada uma fotografia dos dois escritores juntos e de uma carta, datada de 2001, endereçada a Luis Sepúlveda por José Saramago, a partir de Lanzarote, onde vivia.
Nessa missiva, em que Saramago se dirige a Sepúlveda como “querido amigo”, o escritor português alude a perseguições de que o autor chileno era vítima, destacando que a liberdade é o “único supremo valor” para escritores como eles.
“A luta pela liberdade é única que nunca se acabará porque sempre estarão à espreita os inimigos dela e daqueles, como nós, que a consideram o único supremo valor. Estou ao teu lado nesta hora em que és alvo de perseguições que alguma vez, ingenuamente, pensámos ser coisa do passado, irrepetível num tempo em que tanto se fala de direitos humanos. Mas, como sabemos, os direitos humanos não se cumprem, e são exemplo disso precisamente aqueles que te ataca”, escreveu José Saramago a Luis Sepúlveda, de quem se despede com um “abraço amigo e solidário”.
O escritor chileno Luis Sepúlveda morreu hoje, aos 70 anos, em Espanha, em consequência da doença covid-19, confirmou a Porto Editora.
Sepúlveda estava internado desde finais de fevereiro num hospital de Oviedo, em Espanha, onde foi diagnosticado com aquela doença. Os primeiros sintomas ocorreram dias antes, quando esteve no festival literário Correntes d'Escritas, na Póvoa de Varzim.
A confirmação de que estava infetado com a covid-19 levou, na altura, o Correntes d'Escritas a recomendar uma quarentena voluntária aos que participaram no festival e estiveram em contacto com o escritor chileno.
Tudo isto aconteceu ainda antes de as autoridades portuguesas confirmarem oficialmente qualquer registo de infeção em Portugal, o que só viria a acontecer a 02 de março.
Luís Sepúlveda, que nasceu no Chile a 04 de outubro de 1949, estreou-se nas letras em 1969, com "Crónicas de Piedro Nadie" ("Crónicas de Pedro Ninguém"), dando início a uma bibliografia de mais de 20 títulos, que inclui obras como "O Velho que Lia Romances de Amor" e "História de Uma Gaivota e do Gato que a Ensinou a Voar".
Além da escrita, a sua vida foi marcada também por forte atividade política, tendo sido expulso de Moscovo, em 1970, onde se encontrava a estudar graças a uma bolsa conseguida através de um prémio literário, e posteriormente, regressado ao Chile, expulso do partido comunista.
Entrou então no círculo mais próximo do Presidente Salvador Allende, que acabou por ser destituído e morto, e com a instituição da ditadura de Pinochet no Chile, foi parar à prisão, primeiro, e depois ao exílio.
Luis Sepúlveda tem toda a obra publicada em Portugal - alguns títulos estão integrados no Plano Nacional de Leitura -, e era presença regular em eventos literários no país.
Luís Sepúlveda era casado com a poetisa Carmen Yáñez, que também esteve hospitalizada e em isolamento.
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